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Fevereiro 2012 | Unimed-ES | 5
Psicologia
Viva o ócio criativo!
As atividades que você pratica em seu tempo livre têm influencia direta sobre sua autodescoberta,
o desenvolvimento psicológico e social, a saúde e a qualidade de vida
“Na maioria das vezes em que ‘não estamos fazendo nada’ (pelo menos aparente-
mente) estamos, na verdade, aproveitando o tempo livre para pensar, refletir, meditar,
tomar decisões, fazer escolhas importantes e exercitar nossa criatividade, além de con-
viver com as pessoas que amamos e nos divertir. E isso implica ‘fazer muita coisa’.” A afir-
mação, de Fátima Niemeyer da Rocha, psicóloga, mestre em história pela Universidade
Severino Sombra e doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
pode resumir o que é e qual é a importância do ócio criativo para nossas vidas.
Conviver com a família, exercitar o auto-conhecimento, ler e até praticar uma mesma
atividade que reúna uma combinação equilibrada de trabalho, estudo e divertimento
são exemplos de ócio criativo. E isso pode gerar benefícios para a pessoa em aspectos
como a autodescoberta, o desenvolvimento psicológico e social, a saúde e a qualidade
de vida.
Sobre a vivência e a importância do ócio, Fátima concedeu a entrevista a seguir com
exclusividade para a Revista da Unimed.
O que é ócio?
Etimologicamente, a palavra ócio significa lazer, repouso
e se relaciona com a cessação do trabalho, a folga, a quie-
tação, o vagar. Pode ser entendida como o período de tem-
po em que a pessoa descansa e não está envolvida com
nenhuma ocupação. No entanto, o ócio não deve ser visto,
necessariamente, como falta de disposição física, preguiça,
moleza, sedentarismo ou falta do que fazer. As atividades
de lazer, em geral reconhecidas como atividades de ócio,
são necessárias e benéficas para o ser humano.
Há diferenças de ócio produtivo e ócio criativo?
Atualmente, com relação ao mundo do trabalho, fala-se
do ócio produtivo ou ócio criativo no sentido de uma mes-
ma atividade poder reunir uma combinação equilibrada de
trabalho, estudo e divertimento; ou seja, é a possibilida-
de de, enquanto trabalha, uma pessoa estar aprendendo
e isso ser divertido, lúdico, e envolver a criatividade e o
crescimento pessoal. Para isso, é necessário que a pessoa
supere a ideia tradicional de trabalho como uma obrigação
necessariamente enfadonha e seja capaz de mesclar ativi-
dades, como o trabalho, o tempo livre e o estudo. Entendo
os termos ‘ócio produtivo’, ‘ócio criativo’ e também ‘ócio
construtivo’ como tendo o mesmo significado.
Existem atividades pré-estabelecidas que possam se
enquadrar no perfil de ócio criativo?
Cada pessoa experimenta o ócio de uma maneira pró-
pria, inclusive variando o grau de intensidade, profundida-
de e envolvimento com que vivencia essas experiências.
Como cada um define que tipo de atividade considera agra-
dável, lhe dá prazer, desperta sua curiosidade e estimula
sua criatividade, isso varia de uma pessoa para outra. Mas
suponho que qualquer atividade livremente escolhida que
gera satisfação, esteja relacionada com as motivações da
pessoa, seja percebida como autodeterminada e que pro-
duza algum tipo de satisfação pessoal se enquadre nesse
perfil.
Atividades comuns na nossa sociedade, como assistir
televisão ou conversar com a família, podem ser formas
positivas de ócio?
Sim, porque atividades comuns do nosso cotidiano,
como essas, podem gerar um grau significativo de satisfa-
ção pessoal, se caracterizando pela promoção de um esta-
do físico e/ou mental gratificante, principalmente as ativi-
dades que envolvem as relações interpessoais. Quanto à
televisão, especificamente, isso vai depender da qualidade
dos programas que a pessoa escolhe para assistir.
Quais são os benefícios do aproveitamento do tempo
livre de forma construtiva? Há reflexos positivos em que
áreas da rotina do indivíduo?
A experiência do ócio, de modo geral, pode gerar bene-
fícios para a pessoa em aspectos como a autodescoberta,
o desenvolvimento psicológico e social, a saúde e a quali-
dade de vida, porque é capaz de proporcionar bem-estar,
satisfação, alegria, ou seja, afetos positivos em geral e fe-
licidade.
Quais são os prejuízos para quem não aproveita seu
tempo livre com atividades construtivas?
É equivocada a ideia de
que as atividades construti-
vas são apenas aquelas que
direta e especificamente
geram dividendos, dinheiro
ou lucro. É comum encon-
trarmos pessoas que se sen-
tem culpadas quando estão
vivendo o ócio exatamente
por pensarem que não estão
fazendo nada de produtivo -
é uma culpa diante dessa su-
posta perda de tempo. Como
consequência, elas acabam
desenvolvendo uma forte
ansiedade; se essa situação
se prolonga, pode levar ao
estresse.
As novas tecnologias (smartphones, tablets, videoga-
mes) têm contribuído de forma positiva ou negativa para
que as pessoas aproveitem seu tempo livre da melhor ma-
neira possível?
Essas novas tecnologias apresentam excelentes oportu-
nidades de estreitamento do convívio e de facilitação da
comunicação entre as pessoas. Apenas não devemos nos
tornar escravos dos recursos tecnológicos. Podemos es-
tabelecer com esses objetos uma relação simples e tran-
quila, sem apego ou dependência, apenas utilizando-os e
usufruindo a comodidade que proporcionam no nosso co-
tidiano.
Fatima Niemeyer da Rocha