Ampla Edição 49

Direito à qualidadedemorte Não é raro as pessoas encararem a medicina como o combate constante contra a morte. E o sonho de viver para sempre é acalentado pelo homem, desde que o mundo é mundo. A fonte da juventude e o exilir da vida eterna foram per- seguidos por místicos, alquimistas e cientistas, cada qual ao seu tempo. Algumas instalações criogênicas apostam na “eternidade”. Hoje, no mundo já existem quase 2 mil corpos congela- dos esperando serem resgatados à vida, quando a ciência assim o permitir. Em contrapartida, existem pessoas que entendem que a morte é um processo natural e irreversível e que na tentativa insana de prolon- gar a vida, muitas vezes, estamos esquecendo que a vida só vale a pena quando é, realmente, vida. Ou seja, quando tem qualidade. É aí que en- tram os cuidados paliativos. Eles se concentram na qualidade e não na duração da vida. Oferecem assistência humana e compassiva para as pesso- as nas últimas fases de uma doença incurável, a fim de que possam ficar mais confortáveis. Isso significa aceitar a morte como o estágio final da vida. Não, não tem nada a ver com euta- násia. Os cuidados paliativos afirmam a vida, não têm a intenção de acelerar, mas também não pretendem adiar a morte, incondicionalmente. Os cuidados paliativos focam na pessoa e não na doença, controlam os sintomas, para que os últimos dias de vida sejam dignos e com qualidade, cercado por seus entes queridos. São direcionados também à família, incluindo-a na tomada de decisões. Os médicos Carlos Augusto Albach , da Unimed Campo Mourão, Nathércia Abrão , da Unimed Juiz de Fora, e José Ricardo de Oliveira , da Unimed Belo Horizonte falaram sobre os projetos voltados aos cuidados paliativos em suas respectivas instituições, durante minie- vento sobre o assunto que aconteceu no 26º Suespar. Oliveira compartilhou inclusive uma experiência vivida com seu pai. Foi isso que o levou a repensar sua especialidade médica e investir sua energia em pacientes que precisam de cuidados paliativos. O Código de Ética Médica brasileiro, reformu- lado, em 2009, traz no capítulo I, Inciso XXII, que: “Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados”. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 2002, os princípios dos Cuidados Paliativos incluem: prover o controle da dor e sintomas estressantes; considerar a morte como evento natural; cuidar da família com a mesma intensidade do cuidado ao doente; integrar as- pectos psicológicos e espirituais ao trabalho. No minievento, o debate, bastante técnico, com trocas de experiências nos projetos de cada cooperativa, pelo tom bastante humanizado emocionou alguns participantes. E o recado foi bastante claro: assistência humanizada (no hospital ou em casa), ações de prevenção e re- dução de agravos à saúde, respeito à vontade do paciente, garantia de conforto na finitude de vida com qualidade, segurança e eficiência devem ser os objetivos principais de médicos, enfermeiros e cuidadores que abraçam esse trabalho. “Para recuperarmos um pouco de sabedoria de viver seria preciso que nos tornássemos discípulos e não inimigos da morte. Mas para isso seria preciso abrir espaço em nossas vidas para ouvir a sua voz. Seria preciso que voltássemos a ler os poetas...” (ALVES R., O Médico, 2005) 33 AMPLA • ABR/MAI/JUN 2018 | Carlos Augusto Albach José Ricardo de Oliveira Nathércia Abrão

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