Ampla Edição 55

CAPA OUT/NOV/DEZ 2019 AMPLA 17 Um Olhar pela História É a primeira vez na história da humanida- de que o ser humano tem a possibilidade de trabalhar sentado. Isso antes não era possível. No tempo das cavernas, por exemplo, se o ho- mem acordasse e ficasse sentado numa pedra o dia todo ele não comia, pois era necessário o esforço físico para conseguir o alimento. O homem contemporâneo trabalha sentado o dia todo e no fim do mês tem um salário para comprar comida. O esforço físico quase não é necessário, e só é realizado por conta da dis- posição e boa vontade do próprio indivíduo. Além disso, a facilidade de acesso aos alimentos ultraprocessados gerou um como- dismo sem precedentes. O consumo de ali- mentos de baixo valor nutricional e alto índi- ce calórico fez explodir os ganhos excessivos de peso, impulsionados também pelo confor- to que a tecnologia possibilita à vida contem- porânea, permitindo deslocamento, diversão, consumo de alimentos e até relacionamentos sem a necessidade de movimento físico. Tudo está nas pontas dos dedos, ao toque de um teclado qualquer-seja do computador, con- trole remoto ou celular-, concluímos a maio- ria de nossas ações. “Minha história com a obesidade começa numa casa onde o benefício ou agrado era feito com doces e comida. Eu venho de uma família de obesos, meu irmão fez cirurgia bariátrica, minha mãe é obesa, meu pai é sobrepeso e eu fui obeso. Durante muitos anos eu vivi a obesidade como única realidade. Me casei com cerca de 100 quilos, e aí eu comecei a trabalhar, trabalhar e trabalhar. Tive uma empresa muito grande, uma rede de clínicas com cerca de 130 unidades, aí me mudei para São Paulo. Foi nessa época que deixei de cuidar de mim, de vez. Não só de mim, mas da minha família também, para ficar enfiado dentro da empresa. Nesse ritmo, eu cheguei a 187 quilos. E percebia que o buraco não tinha fundo, sabe? Eu via que eu nunca ia preencher aquele vazio. Um dia fui no parque com minha filha e não consegui brincar com ela, foi quando eu decidi fazer a bariátrica. No entanto, quando eu fui no hospital e fiz todos os exames, fiquei com receio da cirurgia. Conversei com a minha esposa e falei ‘eu quero tentar emagrecer sozinho’, e minha esposa que sempre foi saudável, sempre se cuidou, ajudou-me bastante nesse processo. Comecei a fazer terapia, vendi minha parte na empresa, montei outro negócio, fui na nutricionista e comecei a fazer academia todos os dias. Criei uma rotina mais saudável, na qual eu pude me cuidar mais. Mudei radicalmente minha rotina e cheguei a 98 quilos, sozinho. Isso em cerca de dois anos. Hoje, sou outra pessoa, mas ainda lembro de alguns momentos muito difíceis na questão social, como por exemplo, entrar no avião e ele ficar parado no aeroporto, atrasando a decolagem, porque não tinha o ‘negócio’ para aumentar o cinto... Eu odiava comprar roupa, porque nunca tinha meu tamanho... Também lembro do olhar das pessoas assustadas, quando me viam, o preconceito, porque com 187 quilos você fica muito grande. Hoje eu moro numa cidade pequena, brinco muito com minha filha e sou muito feliz com minha esposa. E posso dizer: desse processo, 80% é terapia, 10% nutricionista e 10% exercício físico...” Matheus Marcondes 37 anos - Cirurgião Bucomaxilo - 89 quilos a menos, com terapia e reeducação alimentar

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