Ampla Edição 55

CAPA 20 AMPLA OUT/NOV/DEZ 2019 Strobel alerta para o fato de que o paciente deve compreender que é essa cirurgia exige mudança de hábitos por toda a vida. Considerada uma cirurgia de grande porte, carrega consigo a ne- cessidade de acompanhamento pré e pós-operatório com equipe multidisci- plinar, ou seja, é uma mudança de estilo de vida que vai exigir demanda no longo prazo, cuidados com a alimentação, re- posição de vitaminas, e atividade física para ter o sucesso com a perda de peso. “ Para pacientes com obesidade seve- ra [grau 3, que são pessoas com índice IMC a cima de 40], o melhor resultado de perda de peso de longo prazo é por meio da bariátrica. Ela é bastante supe- rior em relação ao tratamento clínico, quando a pessoa necessita eliminar de 30 a 40 quilos, ou até mais”, explica. Segundo o cirurgião, o procedi- mento também melhora quadros como “diabetes, pressão alta, apneia do sono, gordura do fígado–conhecida como esteatose hepática-problemas articulares como artrose de joelho e de tornozelo, problemas de quadril e de coluna, além de diminuir muito o ní- vel de triglicerídeos e colesterol. Sem contar que o processo de emagreci- mento aumenta, consideravelmente, a autoestima”, completa. O sucesso do procedimento na re- versão do quadro da obesidade também tem relação com questões hormonais, que são muito importantes na mudança do metabolismo após a cirurgia bariá- trica. Essa mudança no metabolismo é o segredo da perda de peso a longo pra- zo. “A alteração metabólica, que chega a ser hormonal, é alterada pela função de alguns hormônios que são produzidos ou inibidos no estômago, e no intesti- no. Esses hormônios ‘conversam’ com o fígado, com o pâncreas, com a gordura marrom que manda no nosso metabo- lismo, com a hipófise, e, com isso, con- seguem fazer um processo de regula- ção, inibindo fortemente a fome”, conta. Isso vai facilitar o indivíduo no processo de “reeducação corporal”, o que deve incluir além da dieta, também a adoção de atividade física. Algumas pessoas, mesmo após fazerem a bariátrica, vol- tam a engordar, por não seguirem as recomendações gerais que incluem, reeducação alimentar e atividade física, após a liberação médica. Maria Clara* 20 anos – Estudante – 30 quilos a menos e diminuindo, depois da bariátrica, há cinco meses *Nome fictício e idade aproximada - Identidade não revelada, a pedido da entrevistada. “Eu sempre sofri com essa questão do peso, desde que eu era criança, eu sempre estive acima do peso. Isso, era normal para mim. Foi com 13 anos, quando comecei a sair mais, conheci mais gente, que eu comecei a sentir a força dos comentários, mas eu não me importava tanto. Eu estava com a galera e eles gostavam de mim, tudo certo. Com o tempo, a situação piorou. Percebi que, primeiro, as pessoas reparam no seu exterior, não importa a pessoa que você é dentro, mas quem eles enxergam, o corpo que eles enxergam. Foi aí que a obesidade começou a me afetar seriamente, não só pela opinião alheia, mas também pela limitação que meu corpo me impunha. Jogar futebol, por exemplo, era impossível, porque eu não tinha mais fôlego para correr... Eu queria fazer teatro, fazer dança, mas eu nunca me inscrevia porque eu não me sentia bem com o meu corpo. E eu negava isso. Muita gente me falava ‘ahh vai fazer isso, porque é superdivertido, é a sua cara...’ e eu ficava me esquivando, dizendo que eu não tinha interesse. Na verdade, era porque eu não me sentia bem comigo. Isso começou a afetar minha autoestima, eu não conseguia fazer nada. Eu não me sentia bem nos lugares, eu saia e eu não conversava muito com as pessoas, porque eu não me sentia confortável. Sempre me falavam ‘aí, você precisa fazer dieta’. Todas as pessoas da minha família falavam isso, que eu precisava fechar a boca, praticar exercício, fazer mais atividades físicas, etc. Só que nunca foi fácil, eu começava uma dieta e, uma semana depois, eu já ficava muito mal. Eu tinha que perder 50 quilos, e sem a bariátrica isso seria muito difícil, porque demoraria muito mais tempo. Eu tentava, mas desanimava, e sempre desistia. Eu lembro que sempre tive medo da cirurgia, muito medo do pós-operatório também, eu não sabia o que ia acontecer comigo. Acabei fazendo a cirurgia. Até agora, já perdi 30 quilos e estou reaprendendo a comer. Encontrei prazer em comer coisas mais lights e, obviamente, em menor quantidade. Hoje, também, eu já consigo correr, antes eu não conseguia. Porém, o maior ganho foi a minha autoestima. Fontes: Organização Mundial da Saúde – OMS / Ministério da Saúde / Pesquisa Vigitel

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