Revista AMPLA 48

No setor saúde, há uma intermediação singu- lar entre a demanda (usuário) e a oferta (assis- tência) que tem vários determinantes. As razões dessa conformação peculiar vêm da ideia de que a saúde não é semelhante a outros segmentos produtivos. Tanto a oferta como a demanda têm comportamentos singulares e não conseguem convergir isoladamente para o mercado, como em outros setores (VIANA et al., 2007). Especificamente na saúde suplementar, que atende aproximadamente 25% da população brasileira, as relações entre os pacientes (deman- dantes dos serviços) e os prestadores (médicos, clínicas, laboratórios, hospitais) que oferecem o serviço estão intermediadas pelas operadoras de planos de saúde (OPS), que gerenciam os recursos para financiar essas ações de cuidados em saúde por meio da lógica do mutualismo. A incorporação de novas tecnologias em saúde (DOS REIS et al., 2016), fortemente influen- ciada pelo marketing da indústria, tem gerado um acréscimo na inflação referente a produtos e serviços na área médico-hospitalar. Essas incor- porações com frequência carecem de análise de custo-efetividade e recorrentemente culminam na utilização exagerada e desnecessária desses recursos tecnológicos. A judicialização da saúde tem surgido como outro fenômeno importante que vem impondo pressão no financiamento por parte das OPS, obri- gando a dar cobertura para tecnologias ainda não previstas. Esse fenômeno é consequência de um vácuo regulatório no processo de incorporação de novas tecnologias no Brasil (PEPE et al., 2010). O aumento da fragmentação do cuidado, a prá- tica da medicina defensiva devido a preocupações médico-legais e o marketing da indústria produto- ra de insumos da saúde voltado aos médicos e aos pacientes têm encorajado o uso cada vez maior de mais testes diagnósticos e procedimentos terapêuticos (BEHNKE, 2013). Os Estados Unidos gastam mais do que qualquer outro país desen- volvido em cuidados em saúde, mas esses dólares gastos não se traduzem em melhores resultados. Um dos maiores fatores que contribuem para os elevados gastos na atenção em saúde nos Estados Unidos é o excesso de utilização ( overutilization ). O excesso de utilização se manifesta por meio de um volume de cuidado maior do que o necessário, por exemplo: visitas ao consultório, uso de vários especialistas, hospitalizações, testes diagnósticos, procedimentos e prescrições médicas. SEGURANÇA A qualidade e segurança do paciente são preo- cupações evidenciadas em diversos países, devido à alta incidência de Eventos Adversos (EA), que é definido pela Organização Mundial de Saúde (WHO) como incidentes inesperados, indesejados e estão diretamente associados com os cuidados de saúde prestados aos pacientes (WHO, 2009). Os índices de EA crescem em pacientes interna- dos, inclusive em locais de intensa monitorização, como em UTIs (ORTEGA; D´INNOCENZO; DA SILVA; BOHOMOL, 2017) No estudo de Ortega et al. (2017), que avaliou uma população de 304 pacientes internados em UTIs de um hospital privado no Brasil no período de quatro meses de 2013, observou-se que 25% dos pacientes sofreram com EA (8,2%). A ocor- rência mais prevalente foi a lesão por pressão (43,6%), perda de sonda nasoenteral (30,8%), perda do cateter central de inserção periférica (12,8%), perda do cateter venoso central (10,3%) e Queda (2,5%) (ORTEGA; D´INNOCENZO; DA SILVA; BO- HOMOL, 2017). Nos Estados Unidos, estima-se a ocorrência de 400 mil mortes por ano devido a erro assis- tencial, representando a terceira causa de morte no país, visto que 78% desses casos poderiam ser evitados, conforme o estudo de Harvard Medical Practice (MAKARY; DANIEL, 2016). No Brasil, em estudo de Mendes et al. (2009), sobre uma avaliação de EA em hospitais no Brasil, a incidência de pacientes foi de 7,6%, nos quais os evitáveis representavam cerca de 66,7%. | Sustentabilidade 22 A relação da oferta e demandanasaúde Na saúde suplementar, as relações entre os pacientes e os prestadores estão intermediadas pelas operadoras de planos de saúde que gerenciam os recursos para financiar ações de cuidados por meio da lógica do mutualismo Marcelo Rosano Dallagassa, Luiz Henrique Picolo Furlan, Marlus Volney de Morais (Do Núcleo de Inteligência em Saúde, da Unimed Paraná) | AMPLA • JAN/FEV/MAR 2018

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