Revista AMPLA - Edição 52

28 AMPLA JANEIRO-MARÇO 2019 MERCADO De acordo com ele, o Sistema Unimed tem investido continuamente, mas com todo o processo regulatório, sua capacidade financeira vem sendo restrita. “A entrada de no- vos investidores, principalmente, estrangeiros, traduz-se numa mudança considerável no panorama. O volume de di- nheiro envolvido possibilita grandes movimentações no se- tor da saúde, mas pode gerar maior concentração de merca- do levando a relações mais desproporcionais”, acredita Bley. E se todo capital tem o seu apetite, qual o tamanho e quão ética é a atuação desses novos players, são perguntas a serem feitas, especialmente, na área da saúde. “De forma bem simplista, podemos analisar a situação sob duas óti- cas, uma seria a da oportunidade de alavancarmos estrutu- ralmente a assistência à saúde no país e termos ganhos de qualidade na prestação de serviços à população e a outra seria a ameaça do setor ser mera fonte de dividendos aos agentes estrangeiros, sem que as necessidades da saúde no país sejam contempladas”, avalia o diretor Alexandre Bley. Não é de hoje que temos visto na mídia as movimenta- ções de grandes fundos estrangeiros na compra de opera- doras e hospitais. “Esse movimento está em franca expan- são e a concentração do setor já está ocorrendo. Temos que estar atentos, pois o Sistema Unimed é o principal ator no sistema suplementar e, portanto, uma concorrência a ser batida. Precisamos nos unir e, de forma conjunta e coorde- nada, como Sistema, dar as respostas necessárias”, defende. Novos cenários, novos desafios O médico Alexandre Bley, diretor de Mercado e Comunicação da Unimed Paraná, ex- presidente da Unimed Curitiba (2014-2018) e ex-presidente do CRM-PR (2012-2013), afirma não ter dúvida de que estamos vivendo um momento de disrupção, no qual a tecnologia está mudando, radicalmente, o comportamento humano. “Cada vez mais temos meios para ‘facilitar’ a nossa vida, mas o que percebemos é a falta de disciplina no uso dessas tecnologias”. A saúde passa pelo mesmo processo, desde os aplicativos de gerenciamento de saúde, de marcação de consultas, até à telemedicina e ao trivial Whatsapp. “Enfim, meios para nos auxiliar, mas que também estão moldando a importante e essencial relação médico-paciente. As expectativas das pessoas envolvidas têm que ser entendidas. As tecnologias bem empregadas são grandes aliadas, mas, quando são mal utilizadas, podem transformar-se em fonte de conflito e de desperdício”, pondera. O médico lembra a máxima bastante conhecida de que “saúde não tem preço, mas custa e muito”. E nos esquecemos de que esse custo da saúde, nogeral, é impactadopor diversas forças, sendo a mais importante a da indústria farmacêutica e a de material médico-hospitalar. O lançamento de novos medicamentos de forma rotineira não diminui os custos, pelo contrário, só aumenta. Desperdícios, excessos de exames (por má-indicação ou pura repetição) de diagnósticos e de tratamentos, além de erros de atendimento, complicações evitáveis, fraudes e até corrupção, colaboram para que os custos atinjam patamares estratosféricos. Compartilhar responsabilidades Dentro desse cenário, cujo modelo reinante é a rede aberta, na qual o beneficiário de plano procura, quase de porta em porta, médico para atendimentos de determinados sintomas, sem uma coordenação que o auxilie, obriga que a gestão de custo tenha que ser a mais minuciosa possível, exatamente para evitar o desperdício. “Entretanto, existem outros modelos, mais centrados no cuidado do paciente, com um processo de coordenação que visa a real necessidade dele. De forma que aumente a qualidade, otimize os custos e possibilite aos médicos uma triagem de seus pacientes, tendo em vista as especialidades às quais realmente atendem”. O sistema Unimed há muitos anos tem estudado e implantado esses modelos. Por outro lado, “devido à grande heterogeneidade da população, precisamos trabalhar em outras soluções mais customizadas que possam gerar maior inclusão e que tenham como premissa uma responsabilidade compartilhada entre as partes”, explica Alexandre Bley, diretor deMercado e Comunicação, da Unimed Paraná. No entanto, para ele, “a sustentabilidade do setor e a melhora de saúde de uma pessoa não pode ser delegada exclusivamente a uma operadora ou ao poder público, o indivíduo precisa se conscientizar de sua parte”. Todos os atores da saúde, seja pública ou suplementar, precisam entender a responsabilidade que lhes cabe para que o sistema realmente funcione. A sociedade necessita pactuar a saúde que deseja e que pode pagar. Em um mercado cada vez mais complexo, a parceria, a sociedade, o compartilhamento de soluções podem ser respostas vitais para o fortalecimento e a própria sobrevivência da profissão

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