Revista Ampla 66

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 1 HOBBIES & MANIAS Literatura em família: como um hobby ganhou repercussão internacional ENTREVISTA Desembargador Gebran Neto - Questões legais na saúde CONSULTA Tecnologia para o autocuidado Regulamentação da Telemedicina traz facilidades e obrigações SUESPAR: ENCONTRO DEBATE INTERCOOPERAÇÃO E OS RUMOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR r e v i s t a a m p l a . c o m . b r REVISTA DO SISTEMA UNIMED DO ESTADO DO PARANÁ #66 ANO 16 JUL-SET 2022

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JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 3 Ao falarmos sobre “Intercooperação para crescer”, tema do 28ª Suespar – Simpósio das Unimeds do Estado do Paraná, o objetivo foi ressaltar a força do trabalho conjunto realizado entre as cooperativas, intra e inter muros. E instigar a todos do muito que ainda podemos fazer. Esse princípio do cooperativismo nunca se fez tão importante e tão urgente, diante das transformações profundas que vivemos tanto no consumo como na operação de planos de saúde. A matéria de capa desta edição da Ampla destaca algumas discussões promovidas nesses dias de Simpósio, que ocorreram de 25 a 28 de agosto, em Foz do Iguaçu. É destaque também, nesta edição, as transformações no cuidado, com o atendimento digital e novas tecnologias. Além de aprimorar a atividade na área de saúde, algumas dessas ferramentas possibilitam melhor gestão de recursos e de processos. Na matéria sobre bariátrica, os entrevistados falam dos desafios enfrentados por quem faz a cirurgia. Desafios que vão muito além do fato de emagrecer. O processo não dispensa a necessidade de mudanças de hábito e exige que se fique atento e se busque ajuda, sempre que necessário, para não acabar trocando o vício de comer por outro. De maneira que não ocorra uma simples transferência de compulsão, trazendo ainda mais sofrimento ao indivíduo. Nesta edição, o leitor também conhecerá o Programa de Educação Política, do cooperativismo brasileiro, elaborado pela OCB e Ocepar. O objetivo é treinar multiplicadores que possam disseminar o conhecimento sobre cidadania e participação, sistemas político e eleitoral, engajamento e liderança ativa, entre outros, de modo que possamos incentivar a conscientização da importância do voto, que redunda nas decisões políticas e econômicas que impactam a vida de todos nós. Boa leitura a todos! A INTERCOOPERAÇÃO COMO FOCO Conselho Editorial DIRETORIA EXECUTIVA Diretor-presidente: Dr. Paulo Roberto Fernandes Faria Diretor de Saúde e Intercâmbio: Dr. Faustino Garcia Alferez Diretor Administrativo e Financeiro: Dr. Alexandre Gustavo Bley Diretor de Inovação e Desenvolvimento: Dr. Omar GenhaTaha Diretor deMercado e Comunicação: Dr. Durval Francisco dos Santos Filho CONSELHEIROS REGIONAIS Região 1: Dr. Rafael Francisco dos Santos (Ponta Grossa) Região 2: Dr. Evandro Bazan de Carvalho (Norte do Paraná - Cornélio Procópio) Região 3: Dr. Alcione Brusiguello Faidiga (Cianorte) Região 4: Dra.WemildaMarta Fregonese (Francisco Beltrão) COORDENAÇÃO EDITORIAL: JossâniaVeloso - Assessora de imprensa (DRT 2321/PR) Expediente PSGEDITORA: PedroSalanek Filho e Giovanna dePaula (Gestão), GiórgiaGschwendtner, KarinaKanashiro, Talissa Monteiro e ThaísMocelin (Reportagens). DANIELEPAIVASOLUÇÕESEMDESIGN : DanielePaiva (Direção de Arte e Diagramação) UNIMEDPARANÁ: JossâniaVeloso, Louise Fiala Schmitt e LanaMartins (matérias), FabianoPereira, LiègeCintraMazanek Lima eSilva, WellingtonMarçal e assessoriasdasUnimedsSingulares (Colaboração). Capa: DanielePaiva e JossâniaVeloso - UnimedPR. Fotografias: Bancode Imagens, UnimedPR e PSGEditora. Impressão : GráficaMidiograf - 11.000 SSN 2237-2067 n. 66 (2022) Confira sua revista on-line em: www.revistaampla.com.br Acesse nosso Linkedin: www.linkedin.com/in/revista-ampla/ Sugestões e críticas: assessoriadeimprensa@unimedpr.coop.br EDITORIAL Paraná Unimed do Estado do Paraná Rua Antonio Camilo, 283 | Curitiba | PR CEP 82530-450 | Tel. : (41) 3219 -1488 E-mail: imprensapr@unimedpr.coop.br; www.unimed.coop.br/parana Confira o novo site da Revista Ampla Dr. Paulo Roberto Fernandes Faria Diretor-presidente da Unimed Paraná

4 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 Consulta 10 Autocuidado 4.0 Atendimento digital cada vez mais sólido SUMÁRIO Editorial 03 Hobbies eManias 06 Pandemia Literária 26 Entrevista Querstões legais na saúde 28 Tendência Hora de colocar na balança a proposta de open health 36 Check-up 36 PONTA GROSSA 37 NORTE PIONEIRO 38 PARANAVAÍ 39 UNIMED OESTE 40 Almanaque 42 Artigo Sustentabilidade Curas milionárias 32 Prevenir Saúde mental na linha de frente 30 Diagnóstico 08 Educação política - um valor a ser compreendido Especial 13 O que a balança não mostra: desafios enfrentados pelo corpo e pela mente após a cirurgia bariátrica Capa Suespar: Encontro debate intercooperação e os rumos da Saúde Suplementar 18

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 5 O nosso maior compromisso é o cuidado. Quando se trata de preservar a vida, não podemos perder tempo. www.uniair.com.br /voeuniair Central de atendimento: 0800 519 5190 0800 041 4554 Pessoas com deficiência auditiva: 0800 642 2009

6 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 HOBBIES E MANIAS Experiências vividas na pandemia inspiraram a família Carvalho a lançar livro PANDEMIA LITERÁRIA Com base nas experiências cotidianas, família de médico curitibano criou cordel infantil que ganhou repercussão internacional KARINA KANASHIRO A família do médico Gustavo Carvalho conseguiu ressignificar a pandemia por meio da escrita de um cordel infantil sobre suas experiências cotidianas. O que era para ser uma tarefa escolar da filha mais nova acabou ganhando repercussão internacional. O QUE VOCÊVAI LER Sem nenhuma pretensão, e em meio à explosão dos casos do novo coronavírus no Brasil, o médico cardiologista curitibano Gustavo Carvalho viu uma atividade em família se transformar em duas obras literárias infantis de grande repercussão. Tudo teve início em julho de 2020, quando a filha mais nova dele, Emanuela, de 9 anos, trouxe para casa uma tarefa escolar de intepretação de texto, que foi compartilhada com os pais e os irmãos. O resultado foi transformando em um cordel - registro de fatos da realidade do cotidiano em forma de rima, típico da Região Nordeste, com o tema a Covid-19. “Todos nós já estávamos irritados com a pandemia. Escrever sobre a nossa experiência, respeitando a métrica do cordel, foi um momento de distração. É mais que um livro, é um registro contado na versão das crianças, de como as famílias se adaptaram ao momento de isolamento social. Ele foi elaborado de forma bem lúdica e com bastante ilustração”, observa. Assim, surgiu o livro “Xô pandemia”, que ganhou vida com a participação da esposa Fabiana, que é advogada, da filha Maria Fernanda, de 16 anos, e do filho Gustavo, de 8 anos, além da Emanuela. Até a cachorrinha Nina, é citada na obra. “É algo que ficará registrado para sempre. A gente sempre quer o melhor para os filhos e nada melhor do que eles virem que nós somos o exemplo deles. Que nós podemos construir algo juntos. Então é importante nossa postura e nossos hábitos para estarmos sempre mostrando para eles esse horizonte, para que, um dia, eles tenham essa consciência”, conta. Assunto sério Foi uma colega do médico, com experiência em publicação de livros, que o incentivou a editar o material. Carvalho acredita que a obra fez sucesso porque muitos se viam naquela mesma situação da família dele. Depois de editado, o cordel infantil começou a ser distribuído. Inicialmente, foram feitas doações para professores, amigos do médico e crianças em situação de vulnerabilidade social. O negócio começou a ficar mais sério quando o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, tomou conhecimento do material e chamou o médico para uma conversa no gabinete dele. A partir daquele encontro, a obra virou ferramenta na rede pública de ensino. O governo municipal adquiriu mil exemplares, que foram disponibilizados para as escolas.

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 7 HOBBIES E MANIAS Incentivo Tamanha repercussão motivou a família Carvalho a elaborar o “Xô pandemia – Parte II”. A ideia surgiu quando a vacina contra a Covid-19 começou a ser aplicada com o objetivo de desmistificar a imunização. Da mesma forma, a nova edição ganhou o mesmo espaço que a primeira. A coordenação da TV Escola, do sistema público de Educação e transmitida para todo Brasil, convidou o médico para contação gravada do livro voltada para todas as faixas etárias, do Ensino Infantil ao Ensino Fundamental. Os vídeos do “Xô pandemia” contêm versões em diferentes formatos, desde um mais lúdico, para as crianças menores, até uma edição voltada para os adolescentes, sugerindo uma temática de redação. Os vídeos estão disponíveis no YouTube e nos canais da TV Escola. Já os livros, por sua vez, estão em todas as livrarias de Curitiba e nos principais marketplaces. Não bastasse toda a repercussão local, Xô Pandemia e Xô Pandemia - Parte II receberam uma indicação pelo embaixador brasileiro da Unesco, na França. Assim, a família seguiu com a produção do material na versão em inglês e que foi enviado a países como Holanda e Bélgica. A ideia do livro surgiu de um trabalho escolar da Manuela, de 9 anos, e envolveu toda a família Carvalho O trabalho em família fez tanto sucesso que o livro ganhou até versão na língua inglesa “Trazer esse projeto para dentro de casa foi fantástico. Hoje somos convidados para ir às escolas, conversamos com as crianças, com os professores, somos entrevistados. E todos sempre perguntam como é escrever um livro. É muito interessante”, conta. Para ele, a obra é um tijolinho que está sendo colocado na grande construção dos muros da civilização. “Esse tijolinho, da curiosidade, da perseverança, da resiliência, da inovação, da coragem, da determinação e do amor em família”. Para conhecer a página do projeto “Xô pandemia”no Instagram, aponte a câmera do celular para o QRcode ao lado.

8 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 DIAGNÓSTICO EDUCAÇÃO POLÍTICA - UM VALOR A SER COMPREENDIDO “O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus”, Platão JOSSÂNIA VELOSO Programa da OCB e Ocepar treina multiplicadores para educação política. O programa envolve temas como cidadania e participação, sistemas político e eleitoral, engajamento e liderança ativa, o papel das políticas públicas, voz e protagonismo e ações práticas. O QUE VOCÊVAI LER Se você é do tipo que acha que política não presta, que só atrapalha, saiba que, queiramos ou não, ela define boa parte da nossa vida, a forma como vivemos e convivemos. Portanto, abrir mão da política, implica sim, uma escolha política. Significa deixar a terceiros a escolha que nos caberia. É esse o sentido amplo da fala do filósofo grego Platão (428/27 a 348/47 a.C.): “O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus”. Quem abre mão de sua responsabilidade em termos políticos será governado, na maioria das vezes, pelas ideias daqueles que não abrem mão. Se forem boas e concordantes com as suas ideias, tudo bem. E se forem muito discrepantes? E se forem contra aquilo que você acredita e acha justo? Poderá sempre haver a chance de se pactuar determinadas situações. Num jogo democrático, isso é normal. Uma hora vencem nossas ideias, noutras, não. Porém, quando você, simplesmente, abre mão, a margem de negociação fica reduzida. Política, do grego polítikos, significa algo relacionado a grupos sociais que integram a Pólis. Diz respeito à organização, direção e administração de nações ou Estados. Polítikos pode ser descrita como a (difícil) arte de entender e saber posicionar-se na comunidade na qual se está inserido. Alguns a classificam como a arte da negociação. Aristóteles (384 a 322 a.C.), em seu livro Ética a Nicômaco, fala de política como a ciência da felicidade, subdividida em duas partes: a ética e a política, propriamente dita. Isso porque “a felicidade humana consistiria emuma certa maneira de viver, e a vida de um homem é o resultado do meio em que ele existe, das leis, dos costumes e das instituições adotada pela comunidade à qual ele pertence” (Mario da Gama Kury, apresentação do livro Política, de Aristóteles). O quanto isso soa atual, não? Pensando o quanto a educação política é importante, uma nova versão do Programa de Educação Política para o Cooperativismo foi implantada no Paraná, neste 2022, uma realização da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). “Em 2018, foi o início do Projeto. Neste ano, o programa está sendo ampliado e aperfeiçoado. Multiplicadores fazem visita ao congresso nacional para etapa vivencial do programa e encontro com parlamentares da Frencoop

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 9 DIAGNÓSTICO A expectativa da Ocepar é unir em torno do Programa, no Paraná, mais de 2 milhões de paranaenses, com o trabalho direto de multiplicadores regionais que representam as 222 cooperativas registradas na entidade”, explica José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar. Indicados pelas cooperativas, “os multiplicadores são profissionais que estão sendo capacitados em oficinas nas quais recebem treinamento em temas como cidadania e participação, sistemas político e eleitoral, engajamento e liderança ativa, o papel das políticas públicas, voz e protagonismo e ações práticas”, aduz o presidente. Ele explica que a missão da Ocepar nesse projeto é “conscientizar sobre a importância do voto, disseminar a educação política junto aos cooperativistas do Paraná, contribuindo para o engajamento e a valorização de ações que vão ao encontro do espírito cooperativista”. Uma dessas ações é a da Frencoop (Frente Parlamentar do Cooperativismo) no Congresso Nacional. Tudo isso, “observando-se a neutralidade partidária e ideológica, premissa essencial da Frencoop”, frisa. A Frencoop existe desde 1986 e agrupa 253 deputados federais e 37 senadores, de diferentes partidos, identificados com o movimento cooperativista do país, dos quais, 20 deputados e três senadores do Paraná. Um trabalho que tem sido fundamental para garantir marcos regulatórios adequados ao setor, com seus sete ramos principais (agropecuário, consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho, produção de bens e serviços, e transporte). Marcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema Programa de Educação Política para o Cooperativismo Brasileiro Objetivos • Fomentar a conscientização, o engajamento e a participação política do cooperativismo brasileiro e potencializar a sua representação político-institucional • Impulsionar a eleição e reeleição de candidatos comprometidos com o cooperativismo e fomentar o engajamento político de jovens, mulheres e demais lideranças cooperativistas • Conscientizar as cooperativas sobre o impacto das políticas públicas para os negócios • Transparência e prestação de contas na atuação do Sistema OCB e Frencoop • Ampliar a participação do cooperativismo na construção de propostas aos presidenciáveis Quer saber mais, acesse a edição nº 200 da revista Paraná Cooperativo do Sistema Ocepar. Acesse aqui as principais propostas. OCB, lembra que o movimento cooperativista é propulsor econômico e social, portanto, é legítima a mobilização política para que o setor tenha voz e protagonismo nas decisões nacionais. “O cooperativismo agrega 17,2 milhões de cooperados no Brasil. Se somados a familiares, são cerca de 50 milhões de pessoas, 25% da população do país, com ligações econômica e social diretas com o setor. O faturamento das 4,8 mil cooperativas brasileiras é superior a R$ 600 bilhões, e elas geram 450 mil empregos diretos”, destaca Freitas. Para ele, tanta pujança exige uma representação institucional a altura. Segundo FabíolaNaderMotta, gerente-geral da OCB, os eixos de atuação do Programa de Educação Política se fundamentam em cinco propósitos: propostas para um Brasil mais cooperativo, boas práticas de como atuamos no processo eleitoral, comunicação e mobilização digital, prestação de contas e atuação de parlamentares, engajamento, participação e representação cooperativista. Para a advogada Daniely Andressa da Silva, coordenadora de Relações Parlamentares da Ocepar, as premissas que norteiam as ações do programa de educação política da entidade no Paraná pautam-se emum trabalho que exige o envolvimento não apenas da Ocepar e da OCB, mas das cooperativas de modo geral. “Tem como fundamentos a integridade, a legalidade e os princípios democráticos, a difusão de informações com fontes fidedignas e verificadas pelas equipes institucionais, valorização das ações de representação e o compromisso de compor a Frencoop”. Fonte: https://www.paranacooperativo.coop.br/frencoop/, Revista Paraná Cooperativo, adaptação Revista Ampla. Eixos de atuação • Proposta para um Brasil mais cooperativo • Boas práticas de atuação no processo eleitoral • Comunicação e mobilização digital • Prestação de contas da atuação de parlamentares • Engajamento, participação e representação cooperativista

10 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 AUTOCUIDADO 4.0 KARINA KANASHIRO Acompanhamento remoto de pacientes, interpretação de resultados de exames, maior eficiência dos processos e melhor recuperação em procedimentos cirúrgicos. Esses são alguns dos benefícios proporcionados pelas tecnologias que têm auxiliado na manutenção da saúde e prevenção de doenças por médicos e pacientes. O uso de recursos como Inteligência Artificial (IA), cirurgia robótica e dispositivos vestíveis (wearables), a exemplo dos relógios inteligentes (smartwatches), auxilia profissionais de saúde a acompanharem tratamentos, fazerem ajustes de condutas e processos de forma rápida e remota, entre outros benefícios. Dessa forma, alcança- -se um misto de autocuidado e empoderamento do paciente, que passa a ter controle da sua própria saúde. Essas ferramentas permitemo acompanhamento de pacientes com doenças crônicas por meio de aplicativos que monitoram questões, como dieta, frequência cardíaca, sono, realização de atividades físicas e que ajudam no controle do uso de medicações. Alguns até guardam os resultados de exames para que os pacientes tenham um relato consistente e lógico da evolução do seu tratamento. Conforme relata o médico urologista, especializado em Cirurgia Robótica, DisfunçãoMiccional e Uro-Oncologia e consultor médico de Inovação e Tecnologia da Informação, Carlos Sacomani, do hospital AC Camargo Câncer Center, a telemedicina, a teleconsulta, o telediagnóstico e o diagnóstico a distância são os principais recursos que vêm à sua mente quando se fala em avanço tecnológico na medicina. “Por meio das ferramentas de monitoramento remoto, como aplicativos e wearables, o paciente pode monitorar diversos parâmetros. Isso para os médicos é o que nós chamamos de personal health records, que é o prontuário que ajuda no autocuidado de quem está em tratamento”, explica. Na prática Ainda de acordo com o consultor, de forma um pouco mais avançada, temos a Inteligência Artificial (AI), utilizada para aprimorar diagnósticos sem a necessidade de os profissionais terem uma especialização médica específica. Entre os exemplos práticos, Sacomani comenta sobre a questão dos prontos-socorros, onde há muitos médicos clínicos gerais. “Para os casos em que precisam avaliar raio X de tórax e não têm a formação completa para isso, como um pneumologista ou um radiologista, é possível utilizar a ciência da computação (machine learning) para fazer o diagnóstico de doenças pulmonares, facilitando a vida dos médicos nesses estabelecimentos”, ressalta. Outro exemplo citado por Sacomani é um processo de AI que avalia biópsia de próstata e que consegue, com eficácia de 96%, apontar a amostra possui células cancerígenas. Isso facilita uma pré-avaliação para envio ao patologista especializado, otimizando o tempo dos profissionais envolvidos. “Além de melhorar a atividade médica, esses recursos permitem aprimorar a gestão em saúde e os processos operacionais, trazendo eficiência no acompanhamento de um paciente”, observa. Recursos, como Inteligência Artificial (IA), cirurgia robótica e dispositivos vestíveis, têm proporcionado o empoderamento de pacientes para o autocuidado. Com essas tecnologias, tanto os médicos como as pessoas enfermas conseguem melhores resultados em seus tratamentos. O QUE VOCÊVAI LER Novas tecnologias têm auxiliado médicos e pacientes a manter a saúde e a prevenir doenças CONSULTA Carlos Sacomani: as novas tecnologias empoderam o paciente à medida que trazem informações sobre prevenção de doenças, hábitos de vida, controle de enfermidades crônicas

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 11 Os recursos da transformação digital, como a telemedicina, são trunfos cada vez mais usados no engajamento das pessoas para os cuidados de sua saúde CONSULTA Além de melhorar a atividade médica, esses recursos permitem aprimorar a gestão em saúde e os processos operacionais, trazendo eficiência no acompanhamento de um paciente Carlos Sacomani Já a cirurgia robótica destaca-se por melhorar as taxas de recuperação, redução de sangramento, além de proporcionar uma visão do campo cirúrgico bastante diferente e evoluída. Carlos Sacomani pondera que, há 20 anos, a cirurgia robótica era algo apenas visto em filmes de ficção científica. Hoje é uma realidade. Ele, inclusive, realiza duas ou três cirurgias robóticas por semana. Modernização Outra ferramenta mais comum no nosso dia a dia, os relógios inteligentes (smartwatches) também podem ser utilizados para cuidados com a saúde, já que permitem a avaliação em tempo real de algumas situações. “Será que os dados que eles fornecem são eficazes? Eu diria que sim, porque esses dispositivos estão ficando cada vez melhores e mais consistentes e com um envolvimento em desenvolvimento bastante grande, focados muito mais em prover saúde do que tratar uma doença, conceito que devemos distinguir quando falamos dessas tecnologias”, afirma. O investimento em gestão de processos (process mining) na condução da jornada do paciente, na busca de eficiência operacional, é outro elemento importante na área da saúde. E a Unimed Paraná já está utilizando a tecnologia para melhorar e otimizar procedimentos. “Eu sou um defensor e um grande entusiasta dessa área e acho que nós deveríamos estar explorando e divulgando mais”, defende. Melhoria contínua Na análise de Sacomani, os currículos médicos ainda não estão preparados para treinar um novo médico nesse sentido, porém, há algumas iniciativas, como a da Liga Acadêmica da Santa Casa de São Paulo, em que os alunos se envolvem em projetos de inovação e, com isso, aprendem essas novas tecnologias. Para ele, o preparo para esse cenário precisa começar já na faculdade, com a modernização do currículo dos cursos de medicina. Entretanto, como isso ainda não ocorre, há uma série de cursos, alguns em modelo Ensino a Distância (EAD), e pós-graduações em Tecnologia, Data Science e Machine learning, por exemplo, que podem mudar a concepção de como entregar saúde e como fazer medicina hoje. “Todo esse preparo depende de conscientização, cultura e de mostrarmos resultados científicos consistentes”, finaliza.

12 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 CONSULTA Com a regulamentação do Governo Federal e as diretrizes do Conselho Federal de Medicina (CFM), a telemedicina amplia as possibilidades de atendimento à população. Nesse sentindo, a Unimed Paraná tem desenvolvido soluções que apoiam os cooperados e as Singulares no aperfeiçoamento dessa modalidade que se apresenta como o presente e o futuro da área da saúde. O QUE VOCÊVAI LER ATENDIMENTO DIGITAL CADA VEZ MAIS SÓLIDO Adaptação para o sistema de saúde como um todo, a telemedicina passou a ser regulamentada na rede pública e se confirma como realidade na medicina brasileira GIORGIA GSCHWENDTNER A telemedicina já era uma tendência apontada pelos especialistas da área da saúde nos últimos anos. A pandemia acelerou a formalização e contribuiu para a popularidade do formato que leva assistência a quem precisa pela via digital. Recentemente, o Ministério da Saúde definiu uma portaria que aponta os princípios básicos de como o serviço de teleconsultas deverá ser prestado na rede pública, e que será realizado pelo sistema batizado de ‘Telessaúde’. Além do atendimento clínico, haverá o suporte assistencial, monitoramento do diagnóstico e acompanhamento de tratamentos ou procedimentos cirúrgicos. Corroborando para o exercício ético dessa modalidade aceita pelos profissionais e pacientes, no início deste ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) definiu as novas diretrizes para o atendimento a distância. Entre as especificações, está o consentimento entre as partes envolvidas sobre o formato do atendimento, uma vez que não são todas as especialidades que podem ser cobertas de tal forma. Outros pontos que devem ser levados em consideração pelos profissionais são a proteção de dados dos indivíduos atendidos, o fato de o valor poder ser equivalente à consulta presencial e a exigência de que o médico (ou a médica) que utiliza a ferramenta precisa fazer parte do conselho de classe de domicílio, podendo atender pacientes em outro estado. Além da teleconsulta, a telemedicina poderá ofertar, segundo foi estabelecido pelo CFM: o telediagnóstico (envio de laudos de exames aos médicos); telecirurgia (cirurgia mediada por robôs); telemonitoramento (acompanhamento da evolução clínica do paciente); teletriagem (avaliação dos sintomas do paciente e direcionamento); teleconsultoria (para tratar de procedimentos administrativos e ações de saúde); teleinterconsulta (entre médicos). Acompanhando os movimentos do setor e promovendo a melhor experiência aos cooperados e beneficiários, a Unimed Federação do Paraná desenvolveu internamente a ferramenta Líbero Saúde. “Esse modelo de atendimento permite a teleconsulta e foi implantado em 11 Singulares no estado, exclusivamente para os serviços próprios (NAS, CAS e Programas de Saúde), além dos Programas de Saúde e Centro de Atenção Personalizada à Saúde, da própria Federação”, explica Arianne Almeida Gaio, coordenadora de Soluções em Saúde da Unimed. Elaborado a partir da definição e autorização de cada Conselho, o Líbero Saúde é uma ferramenta que conta com painéis virtuais que permitem a visualização completa dos dados de gestão clínica, inclusive de teleconsulta. “Percebemos que a teleconsulta tem sido bastante utilizada, superando as expectativas do usuário e do profissional, por sua praticidade e agilidade. A ferramenta é amigável e intuitiva e o processo de agendamento simples”, complementa Arianne. Bons resultados em campo Segundo a área responsável pela gestão da plataforma na Federação, o mapeamento aponta que as Singulares Unimed Curitiba e a Unimed Ponta Grossa vêm se destacando e estão avançadas em relação ao uso da telemedicina com os seus beneficiários. “Ainda não existem as informações centralizadas sobre a quantidade de atendimentos já realizados, porém podemos afirmar que a pandemia e a nova legislação consolidaram essa prática nas Singulares”, pontua a coordenadora. No âmbito nacional, a Unimed do Brasil retomou as discussões para as diretrizes de telemedicina no Sistema Unimed, que será acompanhada proximamente pela Federação. A perspectiva é a de que a Unimed possa oferecer atendimento de qualidade aos usuários, com diretrizes bem definidas e pautadas na excelência em cuidar. “Notadamente, a acessibilidade ofertada ao usuário é um dos pontos positivos e mais importantes ao tratarmos da assistência à saúde. Hoje lugares remotos podem dispor de profissionais de saúde qualificados para atendimento à saúde. Pesquisas recentes de perfil de consumo e tendências pós-pandemia apontam que “comodidade”, “fácil acesso” à saúde são destaques para a escolha do plano de saúde”, reforça Halsey Costa Resende, gerente de Atenção à Saúde da Federação.

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 13 OQUEABALANÇANÃOMOSTRA: DESAFIOS ENFRENTADOS PELO CORPO E PELA MENTE APÓS ACIRURGIA BARIÁTRICA THAÍS MOCELIN Era maio de 2016. Quando Lucas Damasio subiu na balança pela última vez antes do procedimento para redução do estômago, aos 32 anos, o ponteiro marcava 154 kg. O peso estava prejudicando seus joelhos e demais articulações inferiores. E começando a causar outros problemas sérios à saúde. Um ano antes, o médico de família e de comunidade que o atendia já havia recomendado a cirurgia bariátrica. “Eu pedi um período de 12 meses para tentar emagrecer sem a intervenção, porém não tive um resultado significativo. Então, fiz a cirurgia”, conta o mestre em Gestão de Cooperativas e especialista em Marketing Estratégico que atua na Unimed do Estado do Paraná. Lucas tinha receio de fazer o procedimento cirúrgico e tentou, ao máximo, evitá-lo. Sua principal dúvida era sobre o período de adaptação. De fato, os primeiros 15 dias de recuperação foram os mais difíceis, quando a alimentação era restrita a pequenas doses líquidas. “A privação da alimentação durante esse período provocou um choque que teve efeitos no humor e no emocional”, recorda. Nesse período, o apoio da esposa foi essencial. E logo os resultados da cirurgia começaram a aparecer. “Em pouco tempo eu perdi mais de 40 quilos e me sentia outra pessoa, com mais disposição e mobilidade”, revela. No pré-operatório, além do acompanhamento do médico de família e da cirurgiã, ele teve consultas com uma nutricionista especializada e um psicólogo. Também frequentou um grupo de apoio com pessoas em fase de preparação para a cirurgia e participantes que já tinham executado o procedimento, com resultados satisfatórios. Após a cirurgia, além do retorno aos médicos, Lucas continuou indo à nutricionista, com quem se consulta periodicamente até hoje. “Por alguns relatos que obtive de pessoas que fizeram a cirurgia, considero que eu tive muita sorte no acompanhamento de todo o processo anterior e posterior à cirurgia”, afirma. Para os pacientes que passam pela cirurgia bariátrica, os desafios do pós-operatório vão muito além dos números na balança, incluindo riscos de troca de compulsão. O acompanhamento multidisciplinar é muito importante para auxiliar na mudança de vida, para que o procedimento possa proporcionar, de fato, uma relação mais saudável com a saúde física e mental. O QUE VOCÊVAI LER ESPECIAL Acompanhamento multidisciplinar é fundamental para que o paciente consiga sustentar a mudança de vida necessária para sua saúde

14 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 ESPECIAL Como saber quem está preparado para a cirurgia? Além da recomendação feita pelo cirurgião, o paciente precisa de laudo psiquiátrico para liberação do procedimento. “Na entrevista psiquiátrica, o que a gente avalia é o histórico do paciente, se já fez tratamento. E, no exame do estado mental, tenta-se avaliar aspectos do humor, se o paciente já teve ou apresenta algum quadro de ansiedade, depressão, bipolaridade ou psicose. Também vemos o histórico na família”, explica o psiquiatra Gustavo Sehnem. Outro aspecto importante nessa avaliação é compreender como a pessoa chegou à decisão de se submeter à cirurgia. “Se é algo que foi planejado ou se a decisão ocorreu de formamais impulsiva ou por influência de alguém. Também é importante saber se conhece algum caso de sucesso e o que o motivou a realizar esse procedimento cirúrgico. É algo que tem que ser trabalhado e amadurecido”, alerta o profissional. No consultório, a psicóloga Jaqueline Vicelli testemunha diversos motivos que levam uma pessoa a optar pela cirurgia bariátrica. Seja pela indicação médica, com a compreensão dos riscos ocasionados pelo sobrepeso (hipertensão, diabetes, dificuldade de locomoção, etc.), seja pela ineficiência de outras estratégias para perda de peso, como dietas, uso de medicamentos e até do balão intragástrico. Por isso, a fase anterior ao procedimento é focada na conscientização. “É importante saber que a obesidade nem sempre está ligada apenas à alimentação. Outros fatores podem estar envolvidos, como fatores genéticos, ambientais, psicológicos e sociais. Por meio da cirurgia bariátrica, conseguimos promover o controle da obesidade e não a curar totalmente”, ressalta. Para que os resultados sejam satisfatórios, o paciente deverá assumir seus compromissos e responsabilidades. “Precisa estar consciente de que precisará de dedicação para desenvolver novos hábitos para o resto da sua vida”, destaca Jaqueline. Ao orientar pacientes em preparação para a bariátrica, a nutricionista Gisele Farias procura deixar claro que a cirurgia não é o fim dos problemas, e sim o começo da solução. E que o emagrecimento é um processo. “Cabe ao nutricionista esclarecer o papel do hábito alimentar adequado e dos nutrientes nas saúde física, mental e emocional. E também na prevenção das doenças. E não, simplesmente, o alimento que engorda ou emagrece”, reitera. O caminho do pós-operatório Assim como toda cirurgia, a bariátrica também pode ter complicações no ato cirúrgico. Mas esse número é considerado baixo, com uma média de 2% de incidência. “Costumo explicar que, devido ao novo reservatório gástrico é preciso reiniciar a alimentação como se fosse um bebê”, compara a nutricionista Gisele. Nos primeiros 15 dias do pós-operatório, a dieta é baseada em líquidos, pobre em resíduos e em pequenos volumes (50 ml por refeição). Depois, a dieta torna-se cremosa e, em seguida, pastosa. Com 30 dias, evolui para branda, com consistência normal, porém com alimentos predominantemente cozidos e pobre em fibras. Somente próximo aos 90 dias de recuperação é que a dieta se normaliza, ajustada à nova realidade. Da perspectiva de quem passou pelas várias fases do processo, Lucas Damasio chama a atenção para o risco de recaída, quando não se está preparado. “A cirurgia bariátrica precisa vir acompanhada de uma mudança mental sobre a relação que temos com a comida, caso contrário, o indivíduo pode recuperar todo o peso que perdeu. E realmente recupera. Conheci pessoas com as quais isso aconteceu”, conta. Por outro lado, há casos em que a quantidade de alimento não é o problema, mas sim o que é colocado no prato. “Alguns pacientes não se conscientizam sobre a necessidade de mudar os hábitos alimentares e cuidar com as escolhas dos alimentos. E isso pode refletir em deficiências nutricionais ou sintomas gastrointestinais após consumir alguns alimentos de baixo valor nutricional”, observa Gisele Farias. Jaqueline Vicelli: nem sempre a obesidade está ligar apenas à alimentação, pode haver outros fatores A gente vê pessoas que se submetem à cirurgia e depois não conseguem comer grande quantidade, mas líquido vai. É quando o álcool pode acabar se tornando muito presente Gustavo Sehnem

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 15 ESPECIAL Gustavo Sehnem: é importante conhecer o que motivou o paciente à cirurgia Embora a avaliação multidisciplinar faça parte do protocolo, ainda há a chance de que o paciente que se encontrava em um quadro de obesidade apresente um comportamento compulsivo latente. “Pela minha experiência, atendendo pacientes bariátricos há mais de 10 anos, percebo que uma das maiores preocupações em fazer a cirurgia é desenvolver algum comportamento inadequado após a operação como: quadros de depressão, consumo excessivo de álcool e cigarro”, compartilha a psicóloga Jaqueline. TRANSFERÊNCIA DE COMPULSÃO Durante a preparação para a bariátrica, nem sempre é possível identificar a predisposição para o desenvolvimento de uma nova compulsão. Isso pode ocorrer gradualmente, conforme o paciente operado passa a descobrir novos prazeres. Alguns exemplos são: jogos, compras, tabagismo, álcool, uso de medicamentos, sexo e até mesmo a prática esportiva em excesso. “Um estômago menor não fará sumir a compulsão. O que ocorre com algumas pessoas é que, uma vez que estejam limitando a ingestão de alimentos, o prazer de comer poderá não ser como antes. Com isso, alguns pacientes substituem a compulsão alimentar por outra que lhes trará prazer”, descreve a psicóloga Jaqueline Vicelli. Além disso, após o emagrecimento, algumas pessoas enfrentam uma profunda frustração ao se darem conta de que a obesidade não era o único problema de suas vidas. “Após a cirurgia, assumir um novo corpo e novas expectativas depositadas nesse novo eu, superar o que passou e aceitar a nova condição, pode ser assustador. Alguns pacientes podem evoluir para um quadro depressivo ou de ansiedade. Não podemos afirmar que a cirurgia bariátrica é a responsável pelo surgimento dessas psicopatologias no paciente. No entanto, sabemos que as inúmeras mudanças em tão pouco tempo podem contribuir para um sentimento de confusão”, alerta Jaqueline. Gustavo Sehnem, que é especialista em dependência química, trabalha tanto em ambulatório quanto com internamento. Emseu dia a dia de clínica, é alta a incidência de casos de pacientes pós-bariátrica com quadros de dependência de álcool. “A gente vê pessoas que se submetem à cirurgia e depois não conseguem comer grande quantidade, mas líquido vai. É quando o álcool pode acabar se tornando muito presente”, esclarece. Quando isso acontece, o paciente é tratado como um compulsivo, incluindo a atuação de profissionais para ajudá-lo a se perceber, se monitorar e identificar seus gatilhos. “Infelizmente, essas situações são reais, porém, quanto mais bem informado e acompanhado de um psicólogo especializado na área, menores as chances de isso ocorrer. O papel do psicólogo é identificar e auxiliar o paciente a trabalhar os sentimentos e os eventuais transtornos que possam aparecer”, enfatiza Jaqueline. A cirurgia não é o fim dos problemas, e sim o começo da solução. O emagrecimento é um processo Gisele Farias

16 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 ESPECIAL Panorama brasileiro De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgias bariátricas, atrás apenas dos Estados Unidos. De 2011 para 2018, o número de procedimentos registrados pelo DataSUS e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) passou de 34,6 mil para 63,9 mil. Um crescimento de 84,7%. Embora o número tenha diminuído durante os dois últimos anos, em virtude da pandemia da Covid-19, o tema continua relevante. Segundo a pesquisa Vigitel 2021, conduzida pelo Ministério da Saúde, 57,25% dos brasileiros estão com sobrepeso. E o índice de obesidade está presente em 22,35% da população. A médica Solange Cravo Bettini, chefe da Unidade de Cirurgia Bariátrica do Hospital de Clínicas (UFPR), explica que cada organismo possui características genéticas que fazem com que a quantidade de alimento ingerido (pouco ou muito) torne-se ou não aumento de volume corporal. Para a especialista, a obesidade ainda é uma doença mal compreendida pela sociedade – principalmente quando se observa a pressão social e a carga emocional geradas pelo culto ao corpo e pelo ideal que costuma ser mostrado pela mídia. A quem se destina a cirurgia bariátrica Com base na Portaria nº 424/2013, o Ministério da Saúde e o Conselho Federal de Medicina estabelecem as seguintes indicações: a. Indivíduos que apresentem IMC de 50 Kg/m² ou mais; b. Indivíduos que apresentem IMC igual ou superior a 40 Kg/m², com ou sem comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico, por no mínimo dois anos. c. Indivíduos com IMC maior que 35 kg/m² e com comorbidades, tais como pessoas com alto risco cardiovascular, Diabetes Mellitus e/ou Hipertensão Arterial Sistêmica de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas, sem sucesso no tratamento clínico longitudinal realizado por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos. A quem não é recomendada a cirurgia bariátrica a. Pacientes com limitação intelectual significativa, sem suporte familiar adequado; b. Quadro de transtorno psiquiátrico não controlado, incluindo uso de álcool ou drogas ilícitas; no entanto, quadros psiquiátricos graves sob controle não são contraindicativos obrigatórios à cirurgia; c. Doença cardiopulmonar grave e descompensada que influencie a relação risco-benefício; d. Hipertensão portal, com varizes esofagogástricas; doenças imunológicas ou inflamatórias do trato digestivo superior que venham a predispor o indivíduo a sangramento digestivo ou outras condições de risco; e. Síndrome de Cushing decorrente de hiperplasia na suprarrenal não tratada e tumores endócrinos. A Portaria descreve, ainda, critérios relacionados à idade e de risco-benefício. E destaca que tanto o paciente quanto seus responsáveis devem compreender todos os aspectos do tratamento e assumirem o compromisso com o segmento pós-operatório, que deve ser mantido por tempo a ser determinado pela equipe. Solange Bettini: a obesidade ainda é uma doença mal compreendida pela sociedade

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 17 ESPECIAL Trabalho em equipe As cirurgias para o tratamento da obesidade começaram a ser realizadas no Brasil na década de 1970. Entretanto, somente em 2005 passou a ser obrigatória a atuação de uma equipe multidisciplinar para acompanhar o paciente antes e depois da cirurgia. Gisele Farias é categórica quando afirma que o acompanhamento multidisciplinar é parte fundamental do sucesso do tratamento. E que não há um tempo exato ideal de duração, pois varia conforme o quanto o indivíduo está preparado (sob ponto de vista médico, nutricional e psicológico) para o procedimento. “Existem pacientes que já realizam acompanhamento multidisciplinar há anos para o tratamento da obesidade, e. nesses casos, o tempo para realização dos exames pré-operatório já é suficiente. Por outro lado, já tive pacientes que precisaram de seis meses a um ano de acompanhamento nutricional antes da cirurgia”, conta. Após o procedimento, o trabalho dos profissionais continua. A cirurgiã Solange Bettini enfatiza que esse acompanhamento “melhora a qualidade do emagrecimento e uma melhor aceitação das mudanças corporais e equilíbrio emocional para adaptação ao que, muitas vezes, os psicoterapeutas chamam de um renascimento”. Do ponto de vista psiquiátrico e psicológico, os principais aspectos trabalhados no pós-operatório são as expectativas do paciente (o que esperava e a adaptação às mudanças na rotina) e a relação com o ato de comer, Gisele Farias: alguns pacientes não se concientizam sobre a necessidade de mudar os hábitos e cuidar com as escolhas dos alimentos que costuma estar associado a um grande prazer. Num primeiro momento, é comum o sentimento de “lua de mel”, quando começa a perda de peso e a autoestima se eleva. “Na grande maioria dos casos, é como se aquilo fosse o único problema da vida, o peso. O que a gente tem que trabalhar é puxar esse paciente para a realidade. Que, sim, é algo importante para as saúdes física e emocional, mas que, apesar disso, a gente ainda vai ter problemas, situações desafiadoras na nossa vida pessoal, familiar, profissional. Muitas vezes, a gente projeta muitos problemas em função do peso. E pode não ter nada a ver com isso”, revela o psiquiatra Gustavo. “A terapia pós-bariátrica ajuda o paciente a perceber o que o leva a comer, e tratar essa causa, mantendo, assim, a perda de peso que a cirurgia o proporcionou! Ele aprenderá a se conhecer, a lidar com os sentimentos, encarar situações ruins, e principalmente ver a comida de outra maneira”, comenta Jaqueline. O acompanhamento psicológico também pode ser um suporte nos casos em que o paciente não consegue contar com o apoio familiar ou dos amigos para a manutenção nos novos hábitos. A psicoterapia ganha ainda mais relevância para que a pessoa possa enxergar além da questão corporal e passe a estimular outras coisas em sua vida, como um hobby, um esporte, o trabalho, momentos de lazer com outras pessoas. Lucas Damásio passou pelo procedimento em 2016. O método utilizado foi a gastroplastia em Y

18 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 28ºSUESPAR QUAL É O CAMINHO PARA A SAÚDE SUPLEMENTAR? JOSSÂNIA VELOSO, LOUISE F IALA E NÉIA RICE SUESPAR2022 Depois de dois anos ausente, devido à pandemia, o Suespar (Simpósio das Unimeds do Estado do Paraná) está de volta. A sua 28ª edição recebeu aproximadamente 800 participantes, entre dirigentes, colaboradores, cooperados, parceiros e patrocinadores que atuam no Paraná e em diferentes localidades do país, reunindo mais de 40 palestrantes entre os dias 25 e 28 de agosto, em Foz do Iguaçu, para debater os desafios e as oportunidades para o setor. Durante a programação, que teve como norte o tema “Intercooperar para crescer”, grandes nomes do mercado dividiram conhecimento e fomentaram grandes debates em 15 salas temáticas e quatro plenárias. Ao resgatar cenários passados e relembrar características que trouxeram o Sistema Unimed até o momento presente, os participantes foram convidados a voltar o olhar para o futuro da saúde e para a concorrência que, inevitavelmente, tem se fortalecido rapidamente. O anfitrião local, Isidoro Alvarez, presidente da Unimed Foz do Iguaçu, abriu oficialmente o evento, expressando a alegria de a cidade voltar a receber o Suespar. Em um discurso breve, falou sobre a união, a convergência de interesses e reforçou os laços de amizade nessa troca possibilitada pelo evento. José Ricken, presidente do Sistema Ocepar, falou sobre rol taxativo, Frencoop (Frente Parlamentar do Cooperativismo), educação política e intercooperação, destacando o quanto o princípio da intercooperação, a atuação conjunta no interesse mútuo entre cooperativas, é importante “para avançarmos e aperfeiçoarmos o próprio sistema cooperativista”, frisou. Omar Abujamra Júnior, presidente da Unimed do Brasil, elogiou o evento pela qualidade técnica de seu programa, lembrando que abre uma valiosa oportunidade de debate de temas fundamentais diante das transformações e dos desafios do setor da saúde, nesse período “conturbado no país e no nosso segmento”. Deixou uma mensagem de trabalho e confiança, ao reconhecer que “precisamos evoluir para alçar o Sistema Unimed a um novo patamar de integração, eficiência e inovação”. Paulo Roberto Fernandes Faria, presidente da Unimed Paraná, realizadora do evento, destacou o momento transformador pelo qual passamos com a pandemia de Covid-19 e a situação desafiadora que todo o setor encara agora. “Tempos difíceis realçam a força das atitudes, fazem surgir gigantes, norteando nosso poder de realização e de supe-

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 19 CAPA ração”, disse, ao destacar que algumas tendências previstas para acontecer em 10 anos já fazem parte da nossa realidade, como a telemedicina. “É importante destacar que esse cenário, tal como vem sendo redesenhado, embora aponte grandes ameaças, tem oportunizado iniciativas, antes consideradas extremamente difíceis e complexas de executar nas cooperativas Unimeds do Paraná”. Entre as iniciativas, Faria destacou alguns projetos, de recursos assistenciais em andamento, como os hospitais em construção, em Londrina, Maringá e no Biopark em Toledo. Também ressaltou a constante profissionalização da Unimed, frisando o quanto é fundamental buscar caminhos para a manutenção da perenidade e da liderança do Sistema Unimed no mercado de Saúde Suplementar. “Não tenho dúvida de que, um desses caminhos, passa pela redução do número de operadoras Unimed”, enfatizou. Outro caminho é o da intercooperação: “Devemos lembrar que só a intercooperação permite a convergência e a sinergia de negócios, seja entre as cooperativas Unimeds, seja entre a Unimed e outras cooperativas, resultando em ganhos para todos”. Inovação, cuidados paliativos, modelos de pagamento, terapias especiais, verticalização, auditoria, media training. O mercado da saúde suplementar exige, de maneira cada vez mais rápida, que dirigentes e profissionais envolvidos com o setor se atualizem em diferentes frentes. Além de toda a programação de palestras, os presentes puderam conhecer novas soluções e projetos de parceiros de dentro e de fora do Sistema na Feira de Negócios, bem como fazer novas conexões. O Suespar é o maior evento das Unimeds do Estado do Paraná. E é organizado pelos diretores e colaboradores da Federação Unimed Paraná. A diretoria da cooperativa (Paulo Faria - presidente, Faustino Garcia Alferez - diretor de Saúde e Intercãmbio, Alexandre Bley - diretor Administrativo e Financeiro, Omar Genha Taha - diretor de Inovação e Desenvolvimento, e Durval Francisco dos Santos - diretor de Mercado e Comunicação) define o tema, os diretores Faustino Garcia e Omar Taha, juntamente ao Núcleo de Desenvolvimento Humano, definem o conteúdo (grade) e o diretor Alexandre Bley, juntamente à comissão organizadora (composta de uma equipe multidisciplinar de colaboradores), trabalha na organização social e logística do evento. “Sou umdos responsáveis pela grade técnica do Suespar, há muito tempo, e, há alguns anos, o NDH foi convidado a contribuir, por meio do diretor da área responsável pela Inovação e Desenvolvimento. Buscamos também instigar as Singulares a fazerem sugestões, de modo que o evento possa ser realmente proveitoso. O resultado tem sido gratificante”, avalia o diretor de Saúde e Intercâmbio. Para Taha, a experiência da elaboração do 28º Suespar foi desafiadora.. “Eu já havia participado de várias edições, mas sempre como espectador. Essa foi a primeira como um dos organizadores. A responsabilidade era grande, no sentido de atender as expectativas do primeiro grande evento póspandemia”, avalia. Bley concorda:, também foi seu primeiro evento como um dos organizadores. “Havia uma ansiedade geral em proporcionarmos um reencontro presencial. Foram meses de preparo. Sou muito grato de ter comandado um time altamente comprometido e por fazermos uma entrega de um evento reconhecido por todos. Agora, é trabalhar para o 29º Suespar”. Paulo Faria: esse cenário, tal como vem sendo redenhado, embora aponte grandes ameaças, tem oportunizado iniciativas importantes PRESENÇA Além do presidente da Unimed Paraná, presidente da Unimed do Brasil, presidente da Unimed Foz do Iguaçu e presidente do Sistema Ocepar, também estiveram presentes na mesa de honra Adelson Severino Chagas, presidente da Unimed Participações, Helton Freitas, presidente da Seguros Unimed e Faculdade Unimed, Luiz Paulo Tostes Coimbra, presidente da Unimed Nacional, Nilson Luiz May, presidente da Unimed Mercosul e Unimed Rio Grande do Sul, Alberto Gugelmin, presidente da Unimed Santa Catarina, Roberto Yosida, presidente do CRM-PR, e Nerlan Tadeu de Carvalho, presidente da Associação Médica do Paraná. PATROCINADORES E APOIADORES O evento contou com o patrocínio e apoio da Unimed do Brasil, Unimed Nacional, Seguros Unimed, Unimed Participações, Faculdade Unimed, Unimed Mercosul, Medilar, Unicred, Uniprime, Investcoop, DentalUni, Amplimed e InterAll, Lar e saúde, XVI Finance, Praisce, Biodoc, Compar, EmedBR, Warren, Upflux, Uniair, Midiograf, Asas Health, Mölnlycke, RAC engenharia, Unimed Foz do Iguaçu, Sistema Ocepar e Sescoop.

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