Revista Ampla 66

14 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 ESPECIAL Como saber quem está preparado para a cirurgia? Além da recomendação feita pelo cirurgião, o paciente precisa de laudo psiquiátrico para liberação do procedimento. “Na entrevista psiquiátrica, o que a gente avalia é o histórico do paciente, se já fez tratamento. E, no exame do estado mental, tenta-se avaliar aspectos do humor, se o paciente já teve ou apresenta algum quadro de ansiedade, depressão, bipolaridade ou psicose. Também vemos o histórico na família”, explica o psiquiatra Gustavo Sehnem. Outro aspecto importante nessa avaliação é compreender como a pessoa chegou à decisão de se submeter à cirurgia. “Se é algo que foi planejado ou se a decisão ocorreu de formamais impulsiva ou por influência de alguém. Também é importante saber se conhece algum caso de sucesso e o que o motivou a realizar esse procedimento cirúrgico. É algo que tem que ser trabalhado e amadurecido”, alerta o profissional. No consultório, a psicóloga Jaqueline Vicelli testemunha diversos motivos que levam uma pessoa a optar pela cirurgia bariátrica. Seja pela indicação médica, com a compreensão dos riscos ocasionados pelo sobrepeso (hipertensão, diabetes, dificuldade de locomoção, etc.), seja pela ineficiência de outras estratégias para perda de peso, como dietas, uso de medicamentos e até do balão intragástrico. Por isso, a fase anterior ao procedimento é focada na conscientização. “É importante saber que a obesidade nem sempre está ligada apenas à alimentação. Outros fatores podem estar envolvidos, como fatores genéticos, ambientais, psicológicos e sociais. Por meio da cirurgia bariátrica, conseguimos promover o controle da obesidade e não a curar totalmente”, ressalta. Para que os resultados sejam satisfatórios, o paciente deverá assumir seus compromissos e responsabilidades. “Precisa estar consciente de que precisará de dedicação para desenvolver novos hábitos para o resto da sua vida”, destaca Jaqueline. Ao orientar pacientes em preparação para a bariátrica, a nutricionista Gisele Farias procura deixar claro que a cirurgia não é o fim dos problemas, e sim o começo da solução. E que o emagrecimento é um processo. “Cabe ao nutricionista esclarecer o papel do hábito alimentar adequado e dos nutrientes nas saúde física, mental e emocional. E também na prevenção das doenças. E não, simplesmente, o alimento que engorda ou emagrece”, reitera. O caminho do pós-operatório Assim como toda cirurgia, a bariátrica também pode ter complicações no ato cirúrgico. Mas esse número é considerado baixo, com uma média de 2% de incidência. “Costumo explicar que, devido ao novo reservatório gástrico é preciso reiniciar a alimentação como se fosse um bebê”, compara a nutricionista Gisele. Nos primeiros 15 dias do pós-operatório, a dieta é baseada em líquidos, pobre em resíduos e em pequenos volumes (50 ml por refeição). Depois, a dieta torna-se cremosa e, em seguida, pastosa. Com 30 dias, evolui para branda, com consistência normal, porém com alimentos predominantemente cozidos e pobre em fibras. Somente próximo aos 90 dias de recuperação é que a dieta se normaliza, ajustada à nova realidade. Da perspectiva de quem passou pelas várias fases do processo, Lucas Damasio chama a atenção para o risco de recaída, quando não se está preparado. “A cirurgia bariátrica precisa vir acompanhada de uma mudança mental sobre a relação que temos com a comida, caso contrário, o indivíduo pode recuperar todo o peso que perdeu. E realmente recupera. Conheci pessoas com as quais isso aconteceu”, conta. Por outro lado, há casos em que a quantidade de alimento não é o problema, mas sim o que é colocado no prato. “Alguns pacientes não se conscientizam sobre a necessidade de mudar os hábitos alimentares e cuidar com as escolhas dos alimentos. E isso pode refletir em deficiências nutricionais ou sintomas gastrointestinais após consumir alguns alimentos de baixo valor nutricional”, observa Gisele Farias. Jaqueline Vicelli: nem sempre a obesidade está ligar apenas à alimentação, pode haver outros fatores A gente vê pessoas que se submetem à cirurgia e depois não conseguem comer grande quantidade, mas líquido vai. É quando o álcool pode acabar se tornando muito presente Gustavo Sehnem

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