Revista Ampla 66

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 15 ESPECIAL Gustavo Sehnem: é importante conhecer o que motivou o paciente à cirurgia Embora a avaliação multidisciplinar faça parte do protocolo, ainda há a chance de que o paciente que se encontrava em um quadro de obesidade apresente um comportamento compulsivo latente. “Pela minha experiência, atendendo pacientes bariátricos há mais de 10 anos, percebo que uma das maiores preocupações em fazer a cirurgia é desenvolver algum comportamento inadequado após a operação como: quadros de depressão, consumo excessivo de álcool e cigarro”, compartilha a psicóloga Jaqueline. TRANSFERÊNCIA DE COMPULSÃO Durante a preparação para a bariátrica, nem sempre é possível identificar a predisposição para o desenvolvimento de uma nova compulsão. Isso pode ocorrer gradualmente, conforme o paciente operado passa a descobrir novos prazeres. Alguns exemplos são: jogos, compras, tabagismo, álcool, uso de medicamentos, sexo e até mesmo a prática esportiva em excesso. “Um estômago menor não fará sumir a compulsão. O que ocorre com algumas pessoas é que, uma vez que estejam limitando a ingestão de alimentos, o prazer de comer poderá não ser como antes. Com isso, alguns pacientes substituem a compulsão alimentar por outra que lhes trará prazer”, descreve a psicóloga Jaqueline Vicelli. Além disso, após o emagrecimento, algumas pessoas enfrentam uma profunda frustração ao se darem conta de que a obesidade não era o único problema de suas vidas. “Após a cirurgia, assumir um novo corpo e novas expectativas depositadas nesse novo eu, superar o que passou e aceitar a nova condição, pode ser assustador. Alguns pacientes podem evoluir para um quadro depressivo ou de ansiedade. Não podemos afirmar que a cirurgia bariátrica é a responsável pelo surgimento dessas psicopatologias no paciente. No entanto, sabemos que as inúmeras mudanças em tão pouco tempo podem contribuir para um sentimento de confusão”, alerta Jaqueline. Gustavo Sehnem, que é especialista em dependência química, trabalha tanto em ambulatório quanto com internamento. Emseu dia a dia de clínica, é alta a incidência de casos de pacientes pós-bariátrica com quadros de dependência de álcool. “A gente vê pessoas que se submetem à cirurgia e depois não conseguem comer grande quantidade, mas líquido vai. É quando o álcool pode acabar se tornando muito presente”, esclarece. Quando isso acontece, o paciente é tratado como um compulsivo, incluindo a atuação de profissionais para ajudá-lo a se perceber, se monitorar e identificar seus gatilhos. “Infelizmente, essas situações são reais, porém, quanto mais bem informado e acompanhado de um psicólogo especializado na área, menores as chances de isso ocorrer. O papel do psicólogo é identificar e auxiliar o paciente a trabalhar os sentimentos e os eventuais transtornos que possam aparecer”, enfatiza Jaqueline. A cirurgia não é o fim dos problemas, e sim o começo da solução. O emagrecimento é um processo Gisele Farias

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