Revista Ampla 66

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 17 ESPECIAL Trabalho em equipe As cirurgias para o tratamento da obesidade começaram a ser realizadas no Brasil na década de 1970. Entretanto, somente em 2005 passou a ser obrigatória a atuação de uma equipe multidisciplinar para acompanhar o paciente antes e depois da cirurgia. Gisele Farias é categórica quando afirma que o acompanhamento multidisciplinar é parte fundamental do sucesso do tratamento. E que não há um tempo exato ideal de duração, pois varia conforme o quanto o indivíduo está preparado (sob ponto de vista médico, nutricional e psicológico) para o procedimento. “Existem pacientes que já realizam acompanhamento multidisciplinar há anos para o tratamento da obesidade, e. nesses casos, o tempo para realização dos exames pré-operatório já é suficiente. Por outro lado, já tive pacientes que precisaram de seis meses a um ano de acompanhamento nutricional antes da cirurgia”, conta. Após o procedimento, o trabalho dos profissionais continua. A cirurgiã Solange Bettini enfatiza que esse acompanhamento “melhora a qualidade do emagrecimento e uma melhor aceitação das mudanças corporais e equilíbrio emocional para adaptação ao que, muitas vezes, os psicoterapeutas chamam de um renascimento”. Do ponto de vista psiquiátrico e psicológico, os principais aspectos trabalhados no pós-operatório são as expectativas do paciente (o que esperava e a adaptação às mudanças na rotina) e a relação com o ato de comer, Gisele Farias: alguns pacientes não se concientizam sobre a necessidade de mudar os hábitos e cuidar com as escolhas dos alimentos que costuma estar associado a um grande prazer. Num primeiro momento, é comum o sentimento de “lua de mel”, quando começa a perda de peso e a autoestima se eleva. “Na grande maioria dos casos, é como se aquilo fosse o único problema da vida, o peso. O que a gente tem que trabalhar é puxar esse paciente para a realidade. Que, sim, é algo importante para as saúdes física e emocional, mas que, apesar disso, a gente ainda vai ter problemas, situações desafiadoras na nossa vida pessoal, familiar, profissional. Muitas vezes, a gente projeta muitos problemas em função do peso. E pode não ter nada a ver com isso”, revela o psiquiatra Gustavo. “A terapia pós-bariátrica ajuda o paciente a perceber o que o leva a comer, e tratar essa causa, mantendo, assim, a perda de peso que a cirurgia o proporcionou! Ele aprenderá a se conhecer, a lidar com os sentimentos, encarar situações ruins, e principalmente ver a comida de outra maneira”, comenta Jaqueline. O acompanhamento psicológico também pode ser um suporte nos casos em que o paciente não consegue contar com o apoio familiar ou dos amigos para a manutenção nos novos hábitos. A psicoterapia ganha ainda mais relevância para que a pessoa possa enxergar além da questão corporal e passe a estimular outras coisas em sua vida, como um hobby, um esporte, o trabalho, momentos de lazer com outras pessoas. Lucas Damásio passou pelo procedimento em 2016. O método utilizado foi a gastroplastia em Y

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