Revista Ampla 66

22 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 28ºSUESPAR O microprocessamento e as telecomunicações mudaram a realidade e têm nos forçados a revolucionar à nossa maneira de viver, isso também está chegando à área da saúde Há uma revolução acontecendo no mercado nacional nos últimos 15 anos. Isso tem acelerado um processo que não tem volta, apesar da nossa dificuldade em inovar. Para entendermos isso, é necessário pensarmos em como é possível abrir espaço para a inovação em ambientes mais conservadores? Como fazer isso, especialmente, em um país que, historicamente, segue um processo muito linear e hierárquico? Para Diego Barreto, vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood, que ministrou a plenária “Nova Economia”, não é possível entender nossa forma de nos relacionarmos com a inovação, sem olhar para a maneira como o país foi construído. “Somos um país criado a partir de uma lógica pautada na submissão. Não fomos preparados para empreender, questionar e enfrentar os riscos do novo”, disse, provocando uma reflexão sobre a concentração de poder – político e econômico – no Brasil. Historicamente, as mesmas famílias que detinham o poder no início dos anos 2000, eram as mesmas de 20 ou 40 anos antes. “NossoDNA como empresário ou trabalhador é linear e elitista. As grandes referências empresariais são as mesmas há anos, o que faz com que a mudança de poder econômico, responsável por fomentar concorrência e uma série de transformações, simplesmente não aconteça. Nós, historicamente, não gostamos de sair do ambiente que já conhecemos”, destacou. No entanto, o que essa resistência à mudança tem a ver com a nova economia? Conforme Barreto, tudo, já que essa maneira de nos organizamos como povo na história reflete nos negócios. “Não gostamos de mudar a estrutura, então não aprendemos a agir diferente, não somos incentivados a inventar e a sonhar grande. Pelo contrário: desde muito novos somos levados a caminhos tradicionalmente mais seguros e estáveis”. Um exemplo é a burocracia quase que inata ao Brasil, presente em diferentes setores e processos. Até pouco tempo, por exemplo, só resolvíamos situações bancárias se fôssemos, presencialmente, a uma agência que só funcionava durante a semana e em horários em que a maioria da população trabalha. Somente por meio da chegada da tecnologia digital vimos uma abertura no setor, com a criação de bancos e soluções digitais, muito mais acessíveis. “Duas coisas, porém, modificaram radicalmente a realidade: o microprocessamento e as telecomunicações. Antes, a tecnologia digital era associada aos hardwares, que só quem tivesse muito dinheiro acessava. Hoje, não. Se você quiser mandar um conteúdo para outro lugar do mundo, não custa nada. Se criar um software e quiser prestar serviço na Europa, não custa nada. A lógica da criação da tecnologia digital constrói um efeito mundial da escalabilidade acessível. Ou seja, você consegue fazer algo chegar a outros lugares de maneira barata, disponível a todos”, detalhou. E foi a chegada dessa tecnologia que mudou o mundo que conhecemos e, consequentemente, a economia. Pois, essas soluções oportunizam o acesso democrático a todo tipo de informação que a pessoa desejar, sem barreiras físicas, sociais ou financeiras. “Uma criança, hoje, pode ler sobre o que quiser, entender sobre mercado financeiro, aprender a investir... basta querer e entrar na internet”. E é essa transformação que, há aproximadamente 15 anos, começou uma revolução no mercado brasileiro: novas empresas surgiram e mudaram completamente o segmento em que estão inseridas, aumentando exponencialmente a concorrência e obrigando toda a cadeia a se reinventar. Isso acontece, pois, segundo Barreto, a tecnologia se torna digital, escalável e acessível, exigindo apenas uma característica para que as coisas comecem a mudar: o protagonismo. “A oportunidade já existe, não é mais algo OS DESAFIOS NA NOVAECONOMIA LOUISE F IALA Barreto: não é possível entendermos nossa forma de olhar para inovação sem entender o contexto em que o nosso país foi construído

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