Revista Ampla 66

34 AMPLA JUL / AGO / SET 2022 para aqueles que estiveram na linha de frente, algumas particularidades como as citadas acima agravaram um problema que já acontecia antes. Para se ter ideia, 9 em cada 10 médicos tiveram problemas de saúde mental no contexto da pandemia. O dado é de uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) em parceria com a Rede Humanidades Covid-19, ligada à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), e realizada em abril de 2021. As causas e os gatilhos? Todas essas que Dra. X experienciou, como explica o médico Nerlan Carvalho, presidente da Associação Médica do Paraná (AMP): “O confinamento necessário e a incerteza de evolução por ser uma doença nova levaram a um quadro de ansiedade e depressão e também ao que chamamos de burnout, cujo desdobramento refletiu profundamente no médico”. Nesse cenário, o psiquiatra e membro do Conselho Regional de Médicos do Paraná (CRM-PR), Marco Bessa, diz que viu aumentar especialmente os distúrbios do sono, a ansiedade, a depressão, o uso de álcool, de tabaco e de outras drogas. Além do sedentarismo, com o fechamento de academias e outros espaços para atividades físicas. As jornadas de trabalho, que já eram longas, ficaram exaustivas, além de toda a demanda emocional que lidar com as mortes de pacientes e colegas de profissão causou. Só no estado do Paraná, até outubro de 2021, cerca de cem médicos morreram em decorrência da Covid-19. E muitos dos que se curaram, ainda precisam lidar com as sequelas da chamada Covid longa, como o comprometimento da capacidade intelectual e da memória. Marlus Volney de Morais, diretor presidente do Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) e diretor de Prevenção e Promoção à Saúde da Unimed Curitiba, também elenca como causa a dificuldade financeira que Bessa: durante a pandemia aumentaram os distúrbios do sono, a ansiedade, a depressão, o uso de álcool, de tabaco e de outras drogas alguns médicos passaram pelo fechamento temporário de consultórios e clínicas e, ainda, a falta de recursos materiais disponíveis nas unidades de atendimento. Essa última condição impunha a necessidade de escolhas difíceis para os profissionais: “O volume rapidamente crescente de casos consumiu equipamentos e medicamentos das unidades de atendimento, obrigando os profissionais a fazerem escolhas que não estavam apenas ligadas ao cuidado, mas também a questões logísticas, muitas vezes forçando o médico a selecionar pacientes”, afirma. Assim como Dra. X, muitos profissionais também viram as mensagens no celular dispararem com as dúvidas de pacientes sobre tratamento e prevenção. A prática médica e as pesquisas da área nunca haviam Carvalho: o confinamento necessário e a incerteza de evolução por ser uma doença nova levaram a um quadro de ansiedade e depressão Nove em cada 10 médicos tiveram problemas de saúde mental no contexto da pandemia - O dado é de uma pesquisa da FGV em parceria com a Rede Humanidades Covid-19, ligada à Fiocruz PREVENIR

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