Revista Ampla 66

JUL / AGO / SET 2022 AMPLA 35 Morais: o médico, por estar envolvido com saúde e ter um conhecimento maior das doenças, acaba negligenciando sua própria saúde recebido tanta atenção. Entretanto, ao mesmo tempo que causou uma aproximação da população com os profissionais, também foi motivo de muita desinformação e aumento de fake news: “É até normal e saudável haver discordância do ponto de vista científico. Mas o que aconteceu foram polêmicas, de certa forma, inéditas e baseadas em opinião pessoal. Essa era uma questão que havia sido superada desde o século passado com o método científico balizando os trabalhos químicos e experimentais. Então, houve um retrocesso em relação à defesa do que seria científico ou do que deveria ser informado à população. Isso criou um clima de animosidade com colegas trabalhando no mesmo ambiente e com condutas completamente diferentes em relação à doença, medidas de proteção e tratamento. Ouvimos muito que seria só uma gripezinha, por exemplo”, lamenta Marco Bessa. No entanto, as longas jornadas, o desgaste emocional e outros desafios da profissão não foram trazidos pelo vírus e já eram uma preocupação, sendo a taxa de suicídio entre os médicos de três a cinco vezes maior do que na população em geral. De acordo com Nerlan Carvalho, esse é um problema que vem desde os tempos de estudantes. E, para ele, há ainda uma resistência por parte dos profissionais em falarem sobre a saúde em geral, em especial a mental, o que agrava a situação. “Omédico, por estar envolvido com saúde e ter um conhecimento maior das doenças, acaba negligenciando sua própria saúde e simulando ou dissimulando algumas doenças psicossomáticas”, afirma. PREVENIR Marco Bessa acrescenta que é comum o profissional se acostumar a um estilo de vida sedentário que não tem o lazer, as férias e o descanso como prioridades. Em consequência disso, segundo ele, muitos tendem a não procurar ajuda e até a se automedicar. Entretanto, ele alerta, falar de saúde mental e pedir ajuda não deveria ser visto como sinal de fraqueza. “Existe um estigma, tabu e preconceito, como se a pessoa ter problema emocional fosse um sinal de fraqueza e de fragilidade, como se ela não fosse mais ser respeitada pelas pessoas. Os médicos, em particular, especialmente os homens, têm certa resistência para procurar ajuda, porque culturalmente ainda há uma visão muito distorcida do que é ser homem, um certo machismo, onde é prova de fraqueza e de debilidade a pessoa mostrar emoções”. Depois de mais de dois anos de pandemia, as consequências na saúde mental médica ainda são sentidas. O que fazer diante disso? Para quem sofre, a melhor resposta é procurar ajuda. Para familiares e amigos, oferecer apoio e escuta. Já para os órgãos citados neste texto, a busca é sempre por melhorar as condições da profissão, por exemplo, garantindo que “os períodos de repouso e férias sejam rigorosamente respeitados, bem como pela observação de intervalos para recuperações física e psicológica para que sejam feitos como preveem os direitos trabalhistas”, afirma Marlus Volney de Morais. A pandemia pode ter agravado o quadro, mas o problema já estava bem embaixo dos nossos olhos e a necessidade está clara: é preciso cuidar de quem cuida. Existe um certo estigma, tabu e preconceito, como se a pessoa ter problema emocional fosse um sinal de fraqueza e de fragilidade, como se ela não fosse mais ser respeitada pelas pessoas Marco Bessa

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