Revista Ampla 67

30 AMPLA OUT / NOV / DEZ 2022 ENTREVISTA Revista Ampla – Mapear não significa que a crise não exista, então o que fazer após esse passo? João José Forni - Você nunca vai dizer que uma crise não vai ocorrer. Existe uma prática das empresas de treinarem, de fazerem simulações de muito situações de crise já superadas ou óbvias, que já ocorreram, e acabam não treinando as situações mais graves, admitidas como quase impossíveis de acontecer. E o perigo que ronda está justamente nas crises que você nunca teve. Por isso, depois de mapear os pontos vulneráveis, é preciso colocar em prática a forma como a organização iria gerenciar aquela crise, por meio de simulações reais e treinamentos intensivos. A equipe de crise nunca pode ser surpreendida por eventos sobre os quais ela sequer cogitou ou se concentrou. Revista Ampla – O que toda crise precisa? João José Forni - É necessário que exista um líder, que não necessariamente precisa ser o CEO da empresa ou o médico-chefe, no caso de clínicas ou do consultório. Porém, é fundamental que alguém da equipe seja responsável por atender a imprensa e até mesmo os stakeholders, sejam eles pacientes, fornecedores, parentes das vítimas, órgãos de fiscalização, entidades de classe. Em muitos casos, um advogado poderia assumir esse papel. Porém, anteriormente, é preciso passar pelas dimensões da crise. A resposta exige, além do líder e uma estratégia de comunicação, saber qual o timing de estabelecer o contato com a mídia, saber o momento de dar uma entrevista, se necessário, e principalmente o que dizer, porém sempre com o mapeamento prévio. Como diz o jornalista Heródoto Barbeiro, “não consigo entender como alguém pode ir a uma entrevista sem ter treinado, se preparado exaustivamente”. Revista Ampla – Como o profissional médico pode atuar em uma situação de crise? João José Forni - O primeiro passo sempre será delimitar a dimensão da crise. No caso de uma empresa, pode existir um comitê ou uma área de compliance, que podem dar suporte. Além dos profissionais de comunicação, sempre. Já o profissional autônomo pode contar com pessoas que tenham capacidade de auxiliar na definição se aquela situação é grave ou não. E indicar quais as providências que devem ser tomadas. É fundamental que isso seja feito antes de qualquer posicionamento ou antes de uma entrevista, como algumas vezes podemos verificar na cobertura jornalística. Muito importante: não significa vergonha para ninguém reconhecer os erros. Sendo necessário desmentir, é preciso ter os argumentos preparados, não somente alegar a inocência sem elementos fortes e conclusivos. A crise traz impactos ao negócio e à vida das pessoas, esse último ponto para quem trabalha na área da saúde é decisivo para preservar a reputação. Então partindo-se desse ponto já se sabe a direção a ser tomada ao definir a gravidade dos fatos. É fundamental que a instituição assuma o controle da crise, e não a mídia ou os concorrentes. * “Gestão de Crises e Comunicação – O que Gestores e Profissionais de Comunicação precisam saber sobre Crises Corporativas” (Editora Atlas, 2019,3ª edição). Disponível nas principais livrarias on-line. Confira no QR Code alguns artigos de João José Forni sobre crise

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