Revista Ampla 67

OUT / NOV / DEZ 2022 AMPLA 37 PREVENIR Acelera o envelhecimento, ocasiona diabetes, causa depressão e estresse, além de hipertensão e problemas cardiovasculares. Segundo diversos estudos, essas são doenças agravadas pela solidão, que costuma gerar as sensações de angústia, dor, medo e tristeza. Esse desconforto do estar só, quando essa situação não representa uma escolha, pode representar um verdadeiro risco, porém é necessário aprender a conviver e estar solitária ou solitário. O primeiro passo é sempre observar as situações, contextos e reações corporais quando a solidão se apresenta. “Percebo a solidão de diversas formas e em diversos momentos no meu cotidiano. Posso estar só ou mesmo acompanhada de muitas pessoas e, assimmesmo, me sentir solitária. Por exemplo, quando faço algo que fazia com minha melhor amiga, mesmo que eu esteja com outras pessoas, algumas vezes ainda me sinto só”, conta a bancária aposentada Emília Luczynski, sobre sua experiência. Nessas ocasiões, como recurso para superação da melancolia, Emília diz que costuma lembrar das oportunidades e dos momentos maravilhosos vivenciados. “Considero que a solidão é necessária para que eu possa avaliar o que sinto diante do que Busca de apoio Em sua jornada pela Europa, a diretora de Design & Insights na Flutter Innovation, Camila Boga, diz ter encontrado apoio de diversas formas, vezes com grupo de brasileiras que passavam pela mesma situação de expatriamento e maternidade ou com outras estrangeiras. E que é preciso estar alerta à solidão, pois, em seu caso, com o afastamento de toda família e rede de apoio, percebeu o impacto emocional. “Por mais que não pareça, quando você vai perdendo esses laços isso afeta muito o emocional. Você começa a perder momentos da família, momentos importantes no geral. Há alguns anos não entendia como solidão, mas acho que é uma evidência do quão importante é estar presente em algumas circunstâncias, apenas para o estado emocional e os relacionamentos”, partilha Camila. Sem romantizar, reduzir a experiência da partilha de vida a uma pessoa e assumindo a presença da solidão no decorrer da jornada da vida, a pesquisadora Juliana Silva entende que essa é uma consequência muitas vezes das escolhas e da busca por autonomia. “Quando escolhemos nos ouvir e fazer uma escolha mais autônoma, podemos nos afastar do que as pessoas querem e do que era esperado de nós. Isso em qualquer situação. Então, existe um esforço de entender o que queremos e como colocar isso em prática, a fim de construir uma vida autônoma. Às vezes, pagamos o preço dessa escolha nos diversos âmbitos da vida, e vejo isso acontecer, por exemplo, na criação do meu filho. A família ou rede de apoio muitas vezes concorda em ajudar apenas quando é da forma que consideram aceitável. Não vamos glamorizar a independência, pois precisamos das pessoas e de ajuda, porém, se não estabelecermos esses espaços, acabaremos vivendo a história dos outros, em vez de viver nossas próprias histórias possíveis”, relata Juliana, que reforça que a questão da solidão e do preço das escolhas se estende pelas diversas experiências da vida de uma pessoa. me é apresentado ou do que não me é apresentado e eu gostaria que fosse”, observa. De acordo com o psicólogo Ocimar Olivetti, as emoções apontam às necessidades e acabam servindo de combustível para o engajamento nos processos de mudança no contexto de vida. Assim, quando a solidão surge, o indivíduo sente que precisa buscar conexões saudáveis com outras pessoas ou grupos. “Acionar antigos amigos, ligar para algum parente ou aproximar-se de atividades relacionadas à profissão, esporte ou lazer podem amenizar as sensações de vazio e proporcionar conexões afetivas. Já existem aplicativos que buscam conectar as pessoas em busca de amizades e parcerias, grupos comunitários de apoio, grupos religiosos e de autodesenvolvimento com foco em relacionamentos humanos saudáveis que podem ajudar”, indica o profissional. Além disso, a psicoterapia mostra-se como um recurso ímpar no manejo da solidão e seus atravessamentos, conforme pontua Olivetti, sendo um apoio no processo de contato com si próprio, e na conquista do autoconhecimento. A solidão acaba envolvendo uma construção individual dentro dos valores e sentido de vida de cada pessoa. O que fazemos da solidão? Sugestões, dicas e atenções para colocar limites e cuidar para o sentimento não perdurar

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