Divertida Mente 2: filme reforça papel dos pais na saúde mental de crianças e adolescentes - Unimed Cerrado

Divertida Mente 2: filme reforça papel dos pais na saúde mental de crianças e adolescentes

Com maior bilheteria da história no Brasil, animação mostra protagonista lidando com a ansiedade. No Brasil, mais de 18 milhões sofrem com crises ansiosas
        26 de julho, 2024
O filme Divertida Mente 2 se tornou a maior bilheteria da história no Brasil, com mais de 20 milhões de ingressos vendidos em território nacional desde a sua estreia. Batendo recordes também internacionalmente, o sucesso da animação realizada pela Disney e a Pixar não é mero acaso. Ao fazer um retrato cartunesco das emoções conflitantes da protagonista adolescente Riley, o filme tem ajudado a ampliar o debate sobre cuidados com a saúde mental na infância e adolescência, bem como o papel da família nessa tarefa.

Como explica a psicóloga clínica e especialista em saúde pública, Juliana Lutkemeyer Magalhães, a adolescência é uma etapa da vida de qualquer pessoa acompanhada por uma série de mudanças físicas, psicológicas e sociais. “No filme, Riley acaba de completar 13 anos e passa pelo início da puberdade. Vejo a representação como uma amostra fiel do que acontece com cada adolescente nesse estágio em que novas emoções são introduzidas”, pontua a especialista e prestadora da Unimed Cerrado.
 

Divertida Mente, ansiedade e saúde mental


A exemplo do filme da Disney e da Pixar, crianças e adolescentes são considerados os mais vulneráveis para o diagnóstico de transtorno de ansiedade. No Brasil, os dados mais recentes apontam que 18,6 milhões de pessoas sofrem com o problema. De acordo com a psicóloga Juliana Magalhães, Divertida Mente 2 mostra o despertar das novas emoções ansiedade, vergonha, inveja e tédio, intimamente relacionadas a fatores socioculturais que passam a fazer parte da vida das crianças por volta da faixa etária da protagonista. “Nós somos seres movidos pela emoção. Ela motiva nossas decisões e só depois encontramos as justificativas racionais para elas. Daí a importância de aprendermos a gerenciar nossas emoções”, argumenta.

No entanto, a especialista ressalta que, assim como na história animada, não existem emoções ruins. Ainda que elas se atrapalhem em determinados momentos, todas têm uma função importante e, por isso, é essencial saber entender e lidar com cada uma delas. “Não se trata apenas de um exercício de autoconhecimento, mas serve também para compreendermos as pessoas à nossa volta”, afirma.
 

O papel dos pais


Para a psicóloga, os pais normalmente conhecem muito bem seus filhos. No entanto, as novas pressões que se tornam parte do cotidiano do adolescente a partir da puberdade podem parecer esmagadoras, podendo, em muitos casos, desencadear uma variedade de distúrbios mentais.
“Mudanças agudas, dramáticas e bruscas de comportamento podem ser fortes indicadores de problemas na saúde mental do seu filho. Alguns sinais de alerta, por exemplo, podem ser as mudanças nos padrões do sono, choro inesperado ou mau humor excessivo, a perda da autoestima, expressões de desesperança ou o sentimento de inutilidade, paranoia e sigilo excessivo do adolescente, automutilação, preocupações obsessivas com a imagem corporal, isolamento e abandono de amigos e grupos sociais, hábitos alimentares que resultam muitas vezes na perda ou no ganho considerável de peso”, lista.

Diante disso, é importante que os pais mantenham comunicação constante, aberta e honesta com os filhos. Para a especialista, é necessário que eles sintam que podem falar com os pais sobre o que desejarem. “Os pais da Riley, protagonista de Divertida Mente 1 e 2, sempre foram bem atenciosos e amorosos com ela. Porém, podemos notar momentos de cobrança excessiva da jovem para consigo mesma e isso gerava até uma eventual crise ansiosa. Nesses momentos é importante que o adolescente tenha os recursos necessários e que consiga geri-los para retomar o equilíbrio das emoções. E isso depende do quanto foi possível internalizar no seio familiar”, completa.
 

Atenção e ajuda profissional


Crianças podem ser mais quietas e reservadas ou mais agitadas e extrovertidas, tendendo a estender esse mesmo comportamento na adolescência e, posteriormente, na vida adulta. Ainda assim, a psicóloga salienta que não existe uma receita a ser seguida ou garantias de um desenvolvimento emocional saudável, com esses comportamentos podendo se transformar com o tempo. 

“O que se pode ter é um olhar mais atento dos pais para essa passagem do filho. Despendendo tempo de qualidade para de fato os acompanharem nesta caminhada. Mesmo que um pouco mais distante, já que nessa fase é preciso permitir que o filho estabeleça novos laços, novos vínculos que encontra em novos grupos sociais onde se estabelecem e com os quais se identificam. Ainda assim, a construção parental é importantíssima para o desenvolvimento dos indivíduos. É a partir desse convívio diário gerado no âmbito familiar que se constrói a base para a convivência em sociedade”, acrescenta.

Por um lado, é natural que o adolescente busque o distanciamento já que a família não mais satisfaz seus interesses sociais. Ao mesmo tempo, é comum que os pais resistam ao anseio por liberdade dos filhos e tomem atitudes autoritárias. Contudo, a psicóloga Juliana Magalhães alerta que isso tende a acentuar o distanciamento. “Numa fase de tantas transformações é importante que haja amizade e muito diálogo, para que os pais tentem amenizar os conflitos vividos, sendo mais flexíveis e compreensíveis”, recomenda.

Para todos os efeitos, é importante recorrer ao acompanhamento de um profissional de psicologia quando mesmo essas intervenções e interações saudáveis já não são suficientes para melhorar o estado emocional do adolescente. “Atitudes como o isolamento social extremo, mudanças drásticas de comportamento, alterações repentinas na personalidade, impacto no desempenho acadêmico ou escolar podem ser indicativos de problemas mais profundos. Além disso, comportamentos autodestrutivos, tristeza persistente, ansiedade extrema, alterações no sono e no apetite, conflitos graves e constantes são todos sinais que devem levar os pais a buscarem um acompanhamento especializado para o filho. Porém, alguns pais não aceitam que o filho precise desses cuidados e, nesses casos, o encaminhamento acaba partindo do pediatra, da escola ou outra pessoa próxima que acompanhe esses sinais mais consistentes na vida do adolescente”, finaliza.
 
 

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