Esse conteúdo foi desenvolvido para você que é pai, mãe ou responsável por uma criança com diagnóstico ou suspeita de autismo. Aqui você vai encontrar um guia resumido com as principais terapias indicadas e orientações sobre o papel da família, em otimizar o desenvolvimento da criança.

Com conhecimento, você poderá apoiar melhor a sua criança. Vamos juntos?  

Como buscar o diagnóstico?

Ainda não temos exames específicos para diagnosticar o Transtorno do Espectro Autista. O diagnóstico se faz pela observação da criança, com a entrevista dos pais ou responsáveis, e excluindo outras causas para os sinais e comportamentos da criança (para isso é que, muitas vezes, são feitos alguns exames complementares). O diagnóstico de TEA pode ocorrer por diversos caminhos, embora o laudo final deva ser dado por um médico com expertise na área (geralmente neuropediatra ou psiquiatra infantil).

O diagnóstico pode vir em uma única consulta médica ou nas consultas de reavaliação, assim como pode ser respaldado por uma avaliação de outros profissionais, como a de um neuropsicólogo (com sessões de avaliação neuropsicológica, onde se aplicam diversos testes) ou por avaliação multiprofissional com relatórios de fonoaudiólogo, psicólogo e/ou terapeuta ocupacional com experiência em autismo.

E o laudo, o que é?

O laudo médico é um documento no qual o profissional, com consentimento da família, descreve alguns sinais e o diagnóstico ou hipótese diagnóstica, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças CID-10 ou CID-11. Precisa constar nele, o nome completo do paciente, estar carimbado ou assinado digitalmente, com nome e CRM do médico, idealmente especialista na área – neuropediatra ou psiquiatra infantil; precisa estar datado, valendo por toda a vida.

Classificação

Atualmente, o TEA pode ser classificado conforme o nível de dependência e/ou necessidade de suporte para contemplar as necessidades de cada pessoa, podendo ser considerado:

Para além do autismo: as comorbidades

Você sabe o que é comorbidade? É a ocorrência de duas ou mais doenças e/ou transtornos, relacionados ao mesmo paciente e ao mesmo tempo.

É bastante comum que o autismo se apresente com outras condições clínicas associadas. As mais frequentes entre autistas, são: Deficiências Intelectuais, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), Transtorno de Ansiedade, TOD (Transtorno Opositor Desafiador), e Distúrbios do Sono. As comorbidades exigem tratamentos, muitas vezes, diferentes dos aplicados ao TEA, e costumam responder bem ao tratamento psicofarmacológico. Por isso, é muito importante estar atento a essas possibilidades para não atribuir todos os sinais e sintomas ao autismo.

Deficiências Intelectuais: 

São caracterizadas por limitações nas habilidades mentais gerais. Essas habilidades estão ligadas à inteligência, a atividades que envolvem raciocínio, linguagem, leitura, escrita, habilidades sociais, julgamento e autorregulação.

Como ajudar: oferecer suporte na resolução de problemas, planejamento e autogestão (cuidados pessoais, responsabilidades acadêmicas, controle do dinheiro, comportamento e comunicação).

Transtorno Hipercinético:

Transtorno neurobiológico de ordem genética, caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade. De acordo com o CID 10 (Classificação Internacional de Doenças), encontra-se subdividido em: TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) e Transtorno de Conduta. Caracterizado por alterações comportamentais, como: agressividade, hiperatividade, impulsividade, inquietação, irritabilidade e alterações cognitivas, como: dificuldade de concentração, esquecimento ou falta de atenção e dificuldade de aprendizagem.

Como ajudar: manter comunicação clara e eficiente, ouvindo as preocupações da criança e incentivando a expressão dos sentimentos; criar rotinas diárias, com listas de tarefas e horários, auxiliando na sua organização; elogiar e recompensar os acertos; reservar tempo de qualidade, fortalecendo o relacionamento e minimizando o estresse.

Transtorno de Ansiedade:

Caracterizado por uma reação emocional, na forma de incerteza, ou imprevisibilidade do futuro. A dúvida do que poderá acontecer, provoca no corpo e no cérebro uma sensação de perigo, urgência, medo e insegurança. Consequentemente, o organismo reage com uma “luta” ou “fuga”. Os tipos mais comuns e suas características são: TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), caracterizado por preocupação excessiva e análise minuciosa de cada ponto ou situação; TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), caracterizado por pensamentos obsessivos e medos irracionais que levam a atitudes compulsivas; Fobia Social, caracterizada por preocupação e medo com situações sociais comuns; Transtorno de Pânico, com crises intensas de medo e mal-estar generalizado e Agorafobia, caracterizada por medo de situações e lugares que possam causar impotência, constrangimento ou aprisionamento.

Como ajudar: pratique atividade física com sua criança, principalmente ao ar livre; ajude-a a fazer treinos adequados de respiração; programe e realize hobbies, distrações e passeios; proporcione-lhe experiências com animais e com a natureza; estabeleça noites de sono, de forma adequada.

Transtorno Opositor Desafiador (TOD):

Caracteriza-se por um padrão recorrente de comportamentos indesejados como: desobediência, agressividade, provocação, teimosia, irritabilidade, desafio a regras, baixo limiar de frustração, choro, birra, entre outros sinais.

Como ajudar: a família deve ser um bom modelo para a criança; converse com ela, principalmente sobre suas dificuldades, estimulando a expressão dos sentimentos; busque formas de elogiar os acertos; estabeleça limites de modo claro e objetivo; escolha suas batalhas com sabedoria, priorizando o aprendizado de comportamentos adequados. Nunca use a agressividade ou violência.

Distúrbios do Sono:

Conjunto de condições capazes de afetar o sono, impedindo o ciclo por completo de dormir ou tornando o sono insuficiente. Muitas vezes os distúrbios ocorrem pela irritabilidade constante, falta de concentração, ansiedade, agitação e desregulação.

Como ajudar: estabeleça uma rotina de sono, com horários para acordar e dormir; sendo este, próximo ao horário em que a criança apresentar sono; não permita o uso de dispositivos eletrônicos, perto da hora de dormir; evite a ingestão de alimentos estimulantes antes de dormir. Avalie com o médico a possibilidade de uso de melatonina.

Distúrbios gastrointestinais:  

São comuns os distúrbios gastrointestinais em crianças com TEA, e há os estudos que sugerem que essas alterações podem interferir na patogênese e no prognóstico desses indivíduos. Os sintomas mais comuns são diarreia crônica, constipação, desconforto abdominal, refluxo gastroesofágico e intolerância alimentar. As disfunções gastrointestinais podem se manifestar apenas por alterações comportamentais e, assim, interferir no funcionamento do indivíduo, podendo também afetar o relacionamento familiar, sendo determinantes para a qualidade de vida desses indivíduos. Essas alterações podem se apresentar na forma de auto e heteroagressão, bem como na perturbação do sono ou irritabilidade.

É importante um acompanhamento multidisciplinar, a fim de otimizar e assegurar o diagnóstico mais precoce e identificar os problemas gastrointestinais, estabelecendo-se, assim, um tratamento individualizado que evite limitações futuras.


Como o autista percebe o mundo?

Sentidos

Os sentidos são a forma como percebemos e interagimos como o mundo. No corpo humano possuímos sete sentidos que ajudam na sensação do mundo externo ao nosso corpo que são a visão, audição, olfato, paladar, tato, vestibular e propriocepção. No autismo é comum as crianças apresentarem dificuldade de o corpo entender e processar estes estímulos.

A criança pode apresentar uma hiporreatividade que é quando o corpo não processa ou processa pouco as informações, como, por exemplo, cair ao chão, machucar-se e não se importar com aquela dor. Pode ser uma hiporreatividade proprioceptiva.

Estratégias: Use abraços de “urso”; cobertor ponderado (que fornecem uma pressão suave e uniforme ao corpo) para facilitar o sono.

Hiperreatividade

Também existe a hiperreatividade que está relacionado com o sentir demais, como, por exemplo, a criança que não consegue pisar na grama ou na areia, que relata que sente como se a textura machucasse o seu pé. Pode ser uma hiperreatividade tátil. Ou, quando a criança tapa os ouvidos quando ouve o aspirador de pó ou o liquidificador. Pode ser uma hiperreatividade auditiva.

Estratégias: não force a sua criança a entrar em contato com grama ou areia, senão essa sensibilidade irá aumentar. São necessários estímulos mais “profundos” como, por exemplo, uso de massageadores de forma firme.

Busca sensorial
E há a busca sensorial, que, como o nome já diz, é quando a criança busca com frequência, por um certo estímulo, como, por exemplo, ficar rodando a roda de um carrinho, ou até mesmo, a criança ficar rodopiando no chão; são sinais clássicos de uma busca sensorial vestibular.

Estratégias: se a criança está realizando a busca, ela está necessitando desse estímulo. Forneça-lhe tal estímulo aos poucos; em alguns momentos do dia, leve-a ao parquinho;  brinquem juntos nos balanços.

Muitas vezes essas alterações sensoriais são percebidas no comportamento da criança durante o dia. Pode ser uma agitação excessiva quando em contato com alguma textura ou quando a criança fica mais calma.

Caso você perceba que a sua criança apresenta algumas dessas alterações sensoriais, procure o seu médico e seu terapeuta ocupacional. Informe-os sobre o que você percebeu. Quem sabe, a sua criança precisa de uma avaliação com um profissional de Integração Sensorial. Pois essas alterações sensoriais atrapalham-na no seu cotidiano, podendo levar a atrasos no seu desenvolvimento.

Como será o tratamento?

Até o momento não existe nenhuma medicação para o autismo aprovada para o uso clínico. Algumas vezes pode ser necessária a utilização de medicamentos para tratar as comorbidades (como TDAH ou ansiedade) ou aliviar os sintomas-alvo (como a insônia e a irritabilidade, por exemplo), mas, para os sinais principais, não há ainda nenhum remédio disponível.

As terapias são as principais ferramentas terapêuticas – mas elas somente serão eficazes, se as intervenções e técnicas utilizadas pelos profissionais forem baseadas em evidências científicas.

Conheça quais terapias podem ser indicadas para o tratamento de uma criança autista:

  • Psicologia
  • Terapia Ocupacional
  • Fonoaudiologia
  • Fisioterapia
  • Psicopedagogia            
  • Neuropsicologia
  • Psicomotricidade
  • Nutrição

O plano terapêutico

O plano terapêutico nada mais é do que o planejamento das atividades que serão realizadas com a criança nos próximos meses

Generalizando os comportamentos

O grande objetivo das terapias é garantir à criança, maior autonomia e independência possível.

Referências: