Medicina Baseada em Evidências

Por Dr. Wanderley Marques Bernardo 
 
O ano de 2016 cursou com altos níveis de pressão (200x160) em todos os setores do país, e não foi diferente na área da saúde. 

Sob pressão tudo fica mais difícil, os temores aumentam, o pensamento perde o foco, a humanidade diminui e a incerteza se avoluma. 

Nestes momentos as decisões tendem a se concentrar nas opiniões e interesses pessoais, em uma reação primitiva de busca da sobrevivência. 

E nesse cenário, em que os recursos se tornam ainda mais parcos, os modelos de gestão acomodados no repasse dos custos, mesmo justificados, não sobrevivem e simplesmente desabam. 

Mas, também é na crise que mais se aprende, ou ao menos deveríamos. É quando sentimos a falta de algumas medidas que não só nos ajudariam a passar pela fome imperceptível, mas também, se instaladas, seriam perpetuadas, reduzindo a pressão a níveis normais. 

Essa prescrição tem caráter preventivo, terapêutico e pode ser instituída a qualquer momento. Não envolve fármacos, é baseada em dieta específica, e seu sucesso depende de aderência e da intensidade utilizada. 

A dieta é rica em conhecimento, e para cada 100g seus 5 ingredientes são: 

20% de prevalência dos principais “problemas”. 
20% de padronização nas “condutas”. 
20% das características (fraqueza e força) do “sistema”. 
20% de pacientes na “decisão compartilhada”. 
20% de educação para todos na aquisição de “entendimento”. 
Os ingredientes são frutos que podem ser colhidos em árvores que não nascem espontaneamente. 

Devem ser semeadas e cultivadas para que possam crescer e frutificar. Quanto mais árvores mais frutos. Quanto mais cedo a semeadura, mais cedo a colheita. São perenes. Alimentam a muitos. Se adaptam ao clima e à época. Mas têm um custo que o lavrador, proprietário temporário da terra, deve se dispor a arcar. Deve enxergar ser necessário e entender que a colheita não é pessoal, mas o plantio é. 

Quando problemas, condutas, sistema, decisão compartilhada e entendimento estão constantemente juntos, sua individualidade é potencializada e o efeito final é a “sustentabilidade”, a “equidade”, com “poucos conflitos”. 

Sabemos, no entanto, que uma vez decididos pelo cultivo teremos que enfrentar algumas “pragas”, que ameaçam constantemente o crescimento das árvores, a colheita dos frutos e consequentemente a dieta. São elas: 

Ausência de governo na saúde e de mapeamento dos problemas. 
Diretrizes nacionais baseadas na conveniência e desconhecimento. 
Descompromisso e opressão a dois sistemas conflitantes e iníquos. 
Estímulo ao marketing como forma de se aproximar dos pacientes. 
Consumo acrítico de “receitas de bolo” nas estratégias de gestão. 
Essas “pragas” são consequências de uma mistura de incompetência, inconsequência, desconhecimento e conflitos de interesse. Sempre existirão. Podem alterar a forma na dependência da situação e do momento, adaptando-se para sobreviver e para consumir sem produzir. Em meu entendimento não se deve dar atenção a elas, e a melhor forma de combatê-las é produzindo, produzindo muito, sem parar, semeando, regando, cultivando árvores fortes, grandes, repletas de frutos, que por sua vez serão matéria-prima para uma dieta rica em “conhecimento”.

A adoção dessas medidas certamente aumenta a probabilidade de, nos próximos anos, independente de nossa humanidade, colhermos frutos pacíficos e de justiça, sustentados por Deus.