Medicina Baseada em Evidências

Por Dr. Wanderley Marques Bernardo 
 
Saúde!
Brindemos às inúmeras conquistas daquele sistema inovador de saúde!
Homenageemos e premiemos os responsáveis por essas vitórias!
Sentemos à mesma mesa, andemos com eles e nos tornaremos um deles... 

Humanamente é impossível entender como se produz tanto, com tão pouco recurso, tão pouco poder, tão pouco tempo e tão pouca política. São tantas as evidências de benefício que as palavras seriam insuficientes para descrevê-las, principalmente em relação aos importantes resultados obtidos na assistência à saúde do seu próprio umbigo. 

Então, esforçando-me para não faltar com a verdade, sem minimizar o reconhecimento dessas evidências, limitar-me-ei a dez (10) aspectos menores, em que os resultados não são muito visíveis e palpáveis, mas que poderão ilustrar claramente essas ações de qualidade e seus efeitos: 

Ação nº1: padronizar as condutas frente às diversas situações clínicas, por meio de diretrizes baseadas em evidência. Efeito nº1: homogeneidade e equidade na assistência à saúde de todos os seus pacientes, ao ponto de não se identificar diferenças na qualidade dos sistemas público e privado; 

Ação nº2: liberar (tudo baseado em evidências científicas) o registro de medicações, mas ao mesmo tempo não liberar seu uso no sistema público. Efeito nº2: conflitos e caos nas tomadas de decisões, arremessando médicos, pacientes e prestadores de assistência, uns contra os outros; 

Ação nº3: valorizar seus médicos e profissionais de saúde, fornecendo-lhes condições ideais para sua prática. Efeito nº3: atração irresistível de médicos e profissionais para atuar sobretudo no sistema público, inclusive “médicos internacionais” que voluntariamente colaboram com “o programa”; 

Ação nº4: envolver o judiciário na tomada de decisão em saúde, como prova de credibilidade científica e visão multidisciplinar. Efeito nº4: os juízes assumem uma atribuição que não é sua, para a qual não estão preparados, mas que apesar disso, têm que defender os direitos negados aos pacientes; 

Ação no5: investir o mínimo, e de modo impróprio, em políticas públicas de saúde, mantendo epidemicamente a incidência de doenças velhas e novas em seu território. Efeito nº5: destacar-se no cenário mundial como exportador de doenças, mas sempre com certo grau de exclusividade interna; 

Ação nº6: regular a liberação de procedimentos diagnósticos, baseada em evidências e com distribuição equânime em seu território. Efeito nº6: estímulo e consolidação na sociedade da cultura do “overdiagnosis”, onde fazer mais, não importando o quê, é melhor do que não fazer ou fazer menos; 

Ação nº7: regular as indicações de procedimentos terapêuticos, estimulando a tomada de decisão compartilhada entre médico e paciente. Efeito nº7: recordista mundial em procedimentos desnecessários e sem indicação (como a cesárea), atribuindo a médicos e/ou pacientes a coautoria deste recorde. 

Ação nº8: utilizar a evidência no combate à futilidade e ao desperdício na aplicabilidade ao individual, e na implementação segundo uma distribuição loco-regional dos principais problemas. Efeito nº8conquistar a sustentabilidade econômica na saúde e o fortalecimento da atenção primária. 

Ação nº9: prover de maneira apropriada os serviços de saúde em todo o território, garantindo o mínimo necessário, atendendo às diferenças de prioridades locais, medindo os resultados e modulando as estratégias. Efeito nº9: melhora nos índices de saúde e conquista da satisfação dos pacientes. 

Ação nº10: educar, sempre os mesmos, em evidência científica, com mestres de línguas estranhas, que ensinam o que não fazem, que não entendem o que escrevemos ou falamos. Mas, quem se importa? O que importa é que todo mundo ganha. Efeito nº10: efeitos de no 1 ao no 10. 

Inúmeras outras ações poderiam ser aqui descritas, mas que redundantemente levariam às mesmas conclusões: a evidência científica gerada nesse(s) país(es), os valores e preferências de seus pacientes e a experiência de seus médicos foram, ultimamente, o pilar de sustentação na tomada de decisão nesses sistemas inovadores de saúde privada e pública. 

Este artigo foi escrito para registrar alguns poucos resultados medidos em um sistema inovador de saúde, para que não esqueçamos daqueles (o “sistema” não é uma pessoa) que inovaram no cuidado da saúde de seus pacientes, e para que finalmente possamos refletir sobre a utilidade e adoção desses “pais”, pois em seu mundo não há sombra de mudança ou de variação, mas sempre há e haverá o conveniente brinde à sua s aúde! 

Artigo adaptado do editorial publicado de referência: Bernardo WM. Cheers!!! Rev Assoc Med Bras (1992). 2016 Dec;62(9):809-810. doi: 10.1590/1806-9282.62.09.809. PMID: 28001249.