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Pensar Unimed
| Agosto de 2012 - 47
ARTIGO
E
ssas palavras do secretário geral da ONU convidam à celebração
de 2012, pela comunidade internacional, como sendo o Ano In-
ternacional do Cooperativismo.
Isto significa que o cooperativismo, em escala internacional, nos
últimos 30 anos, cumpriu as melhores projeções que o doutrinador
cooperativista canadense A. F. Laidlow escreveu, em 1980, no texto
"As Cooperativas no Ano 2000", apresentado no 27º Congresso da
Associação Cooperativista Internacional, realizado em 1980.
Naquele texto, talvez o mais importante sobre a doutrina co-
operativista, que não sejam os clássicos, que eu tenha lido, era
referenciado o sucesso econômico do cooperativismo no mundo
e preconizado que a influência de tais organizações, no âmbito da
economia mundial, só viria a crescer.
A previsão deu certo. Basta vermos, no Brasil, a marcante influ-
ência do cooperativismo de saúde e o crescimento cada vez maior
do cooperativismo de crédito, que evoluiu em escala geométrica do
meio rural para o urbano, para que se tenha a exata impressão do
que está ocorrendo.
O panorama, que do ponto de vista da viabilidade econômica
é positivo, não deixa de ser preocupante do prisma da responsabi-
lidade social. O louvável incremento do aprendizado das técnicas
de gestão empresarial e governança corporativa, que atravessa as
cooperativas como um todo, não encontra crescimento, à mesma
altura, da divulgação do cooperativismo como doutrina social e da
educação cooperativa para os que ingressam nestas sociedades
atraídos pelos seus bons resultados econômicos.
A responsabilidade por isso não é só das cooperativas, bom que se
diga, mas dos tempos. tempos em que as ideologias andam desvalori-
zadas e, por decorrência, desmerecidas as doutrinas, como decorrência
da afirmação sutil de uma ideologia não dita como tal, mas transmitida
mediante uma sub-reptícia doutrina que entende nada existir e que ul-
trapasse em relevância o universo interior individual de cada um.
Celso Furtado costumava dizer que o desprestígio do plane-
jamento econômico nada mais é que a afirmação implicitamente
prestigiada de um planejamento econômico feito por terceiro, do
qual somos sujeitos passivos. Os cooperativistas, criados na des-
confiança do capitalismo predador e do socialismo burocrático,
não devem só ter dúvidas,
mas certeza de que a socie-
dade e o homem sempre ne-
cessitarão de ideias para ani-
mar suas trajetórias sociais,
tanto quanto necessitam de
alimento, habitação, saúde e
vestuário para sua sobrevi-
vência individual.
As ideias hoje certamente não passam pelas antigas noções
do Estado e do nacionalismo, pois como bem afirmou Peter Burke,
é hoje pecado mortal lutar por seu País, quando ele está errado.
Mas nem por isso deixam de existir, na afirmação ainda que con-
fusa e difusa da proteção ambiental através do desenvolvimento
econômico sustentável.
As cooperativas têm muito a ensinar, sobre este aspecto, para
a sociedade, porquanto sejam entidades que naturalmente necessi-
tam de sustentabilidade para sua preservação, visto que arraigadas
ao ambiente onde se desenvolvem. Para isso, entretanto, precisam
manter a doutrina cooperativa desenvolvida em seu seio, formando
cooperados nos seus ensinamentos, de modo que os mesmos evolu-
am da passividade de tomadores de serviços, para verdadeiros coo-
peradores, aptos a intercambiar, seja como prestadores ou tomado-
res, com a entidade onde são sujeitos ativos.
Torna-se necessário, em todo o empreendimento cooperativo,
manter o fogo das ideias, ainda que aparentemente poucos a elas
se dediquem. Muitas vezes, seus resultados comparecem bemmais
tarde do que pensamos, naqueles que não se salientavam como
atores, mas que, componentes modestos, faziam aprendizado fe-
cundo e valioso. Embora possa parecer romântico, os comitês edu-
cativos das cooperativas são, a médio e longo prazo, tão valiosos
quanto o aperfeiçoamento nas técnicas de gestão e governança.
Laidlow, no mencionado ensaio, preconizava: "é indispensável ao
movimento cooperativo anunciar sem ambigüidade e divulgar teorias,
convicções, critérios éticos fundamentais dos quais se diz portador e
sobre os quais repousam o seu funcionamento".
Completava ainda, o ideólogo canadense: "os princípios da coo-
peração deverão ser formulados enquanto preceitos fundamentais e
não apenas como regras de funcionamento, e erigidos como máxima
universal do movimento aplicáveis sem exceção, a todas as catego-
rias de cooperativas".
Este texto, de 30 anos, continua atual, não como realidade,
mas como pauta!
Marco Túlio de Rose*
O Ano Internacional e a
previsão que é pauta
"As cooperativas são um lembrete para a
comunidade internacional de que é possível
perseguir tanto a viabilidade econômica
como a responsabilidade social."
Ban Ki-moon
* Assessor jurídico do Sistema Unimed-RS