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Out/Nov | 2015 • N
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19 • Ano 5 • REVISTA UNIMED BR
Podia ter dado errado, mas...
A varíola chegou a matar 40%
dos acometidos com a doença
e, dos que sobreviviam, muitos
ficavam cegos e desfigurados.
O mal também atacava o gado,
cavalos e porcos. Em 1796, o bri-
tânico Edward Jenner observou
que as mulheres responsáveis
pela ordenha, quando expostas
ao vírus bovino, tinhamuma ver-
são mais suave da doença. Então,
ele recolheu o líquido que saía
dessas feridas e passou-o em ci-
ma de arranhões que ele mesmo
provocou no braço de um garoto,
que teve um pouco de febre e le-
sões leves, mas uma recuperação
rápida. Com isso, descobriu que,
se uma pessoa fosse contamina-
da pela ferida da varíola bovina
– uma forma muito mais branda
da doença – ficaria livre de pegar
a varíola humana. Foi assim que
surgiu o princípio da vacina.
Médico? Que nada!
Já houve um tempo em que o
poder divino da cura poderia ser
delegado aos reis. A criança com
escrófula – tuberculose dos gân-
glios linfáticos provocada pelo
leite da vaca com mastite tuber-
culose (hoje praticamente ine-
xistente devido à pasteurização
do leite) – era levada ao rei, que
lhe punha a mão, dizendo: “Eu
te toco, Deus te cura”. Como essa
doença pode regredir esponta-
neamente, quando isso aconte-
cia, os reis eram vistos como in-
tercessores do poder divino.
Diga-me seu signo e eu lhe
darei seu diagnóstico!
O signo do zodíaco de cada pes-
soa poderia “prever” que tipos de
doenças ela teria. Aquário estava
ligado aos joelhos, Libra aos rins,
Peixes aos pés. Se Saturno apa-
recesse no seu mapa astral, você
teria séria propensão à melanco-
lia! A religiosidade e a supersti-
ção também eram diretamente
associadas à cura. Mesmo com
um vasto conhecimento em me-
dicina, os monges cristãos da
Antiguidade não queriam que
seus estudos pagãos desviassem
os católicos do caminho da cura
espiritual das doenças e, portan-
to, deixavam-nos arquivados nos
monastérios. Outros exemplos
de superstições que, se seu mé-
dico lhe indicasse hoje, você sai-
ria correndo do consultório:
> Serenus Sammonicus, famo-
so médico da Roma antiga,
recomendava que os doentes
usassem um amuleto com a
palavra mágica “abracadabra”
> Sextus Placidus, médico do
século 5, tratava de febres
com uma felpa de madeira
de uma porta por onde havia
passado um eunuco
> Marcellus Empiricus, que vi-
veu na França entre os séculos
4 e 5, cuidava de lesões ocula-
res tocando-as com três dedos
e cuspindo. O encantamento
valia também para venenos
Preparação médica
Na IdadeMédia, quando a cirurgia
já era largamente praticada emSa-
lerno (onde hoje se situa o territó-
rio italiano), quemoperava deveria
adotar, previamente, certas pre-
cauções: evitar relações sexuais,
contato com mulheres menstrua-
das e alimentos cujo cheiro pudes-
se “corromper” o ar, como a cebola.
Haja coragem!
Praticada desde a Pré-História,
a trepanação – abertura de um
ou mais buracos no crânio com
uma broca neurocirúrgica – foi
o primeiro tipo de cirurgia co-
nhecido. Em torno de 3.000 a.C.,
os egípcios se tornaram experts
nesse procedimento, por conhe-
cerem bem o cérebro humano
graças às mumificações. Essa
intervenção servia para diminuir
a pressão intracraniana, retirar
coágulos, curar enxaqueca, in-
sanidade e até mesmo “expelir
maus espíritos”. O tratamento
consistia em furar o crânio e ar-
rancar um pedaço do osso até a
altura da membrana que recobre
o cérebro. O tamanho, a quanti-
dade de buracos e os instrumen-
tos utilizados variaram com o
tempo, mas os egípcios gostavam
de usar uma broca e uma espátu-
la para fazer de um a três furos
com cerca de 2 centímetros de
diâmetro. E sem anestesia, cla-
ro! Depois da cirurgia, o paciente
usava uma bandagem de linho,
mas os buracos ficavam lá pelo
resto da vida, e o couro cabeludo
e o cabelo voltavam a crescer so-
bre parte da abertura. Na Roma
antiga, o osso era moído e diluí-
do em bebida – considerado um
remédio revitalizante.
Princípios “tensos” da
cirurgia da catarata
Os árabes eram especialistas em
problemas de visão, sendomestres
na fabricação de óculos desde o
século 8. Os médicos muçulma-
nos desenvolveram técnicas de
raspagem semelhantes às usadas