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REVISTA UNIMED BR • N
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19 • Ano 5 • Out/Nov | 2015
Atitude
hoje para tratar da catarata. Em ca-
sos extremos, o cirurgião utilizava
uma agulha sem ponta para pene-
trar o globo ocular e raspar o cris-
talino – a “lente” que regula o foco
– enquanto três assistentes segura-
vam o paciente. Depois, ele retira-
va a agulha e o paciente avaliava se
a visão estava mais nítida. O pro-
cesso era repetido três ou quatro
vezes. A região, então, era lavada
com água salgada e o operado re-
pousava por até uma semana.
Cirurgia plástica é coisa do
passado
Na Itália do século 16, a técnica
atingiu uma sofisticação inédita.
O médico começava “refazendo”
o nariz antigo – ou o que havia
sobrado dele – com um bistu-
ri rudimentar. Obviamente, sem
anestesia. Com o novo órgão es-
culpido em carne viva, o cirurgião
desenhava um prisma na parte
interna do braço do paciente. Com
uma faca afiada, ele cortava a fi-
gura, exceto em uma das pontas.
Como era preciso levar junto com
esse enxerto os vasos sanguíneos,
restava um buraco profundo no
braço do paciente, que era preen-
chido com ataduras. Esse pedaço
de pele cortada era usado para
cobrir o nariz, devidamente afi-
xado com suturas nas laterais. Por
ainda estar ligado ao organismo
– na extremidade não cortada no
braço –, ele recebia circulação de
sangue normalmente e, assim, po-
dia cicatrizar lentamente sobre o
rosto, sem necrosar. Só tinha um
probleminha: durante a regenera-
ção, o paciente ficava com o braço
“colado” à face, sem movê-lo. Para
isso, ele recebia um corselete de
couro, com tiras desenhadas sob
medida. Após duas semanas, o ci-
rurgião fazia retoques coma faca e
só três meses depois permitia que
o paciente se olhasse no espelho.
Sangue do seu sangue
Até que chegássemos aos pro-
cedimentos efetuados hoje para
uma transfusão de sangue, a pri-
meira delas considerada bem-su-
cedida aconteceu na Inglaterra, no
século 17, envolvendo um jovem
de 15 anos com anemia e (pasme!)
uma ovelha. O garoto só sobrevi-
veu à rejeição ao sangue do bicho
porque recebeu uma baixa quan-
tidade, já que os tubos e as agulhas
usados provocaram muita perda
do líquido durante o processo. O
médico responsável, Richard Lo-
wer, fez várias outras tentativas,
mas a maioria dos pacientes mor-
reu. Em 1670, a técnica foi proibi-
da pelo governo britânico e, de-
pois, banida pela igreja. Só voltaria
a ser realizada 150 anos depois,
com os pacientes humanos lado a
lado sobre duas macas.
Respeitável público
Em meio a tantas guerras, as am-
putações eram procedimentos co-
muns. No século 19, o médico es-
cocês Robert Liston desenvolveu
importantes técnicas nessa área, e
suas cirurgias eram realizadas em
um anfiteatro de uma universida-
de de Londres, onde a intervenção
podia ser assistida pelo público. O
paciente tinhaosbraçoseaspernas
presos por correias de couro e qua-
tro pessoas ficavam à disposição
para segurá-lo, caso se debates-
se de dor. Uma placa de madeira
era colocada entre seus dentes, e
o membro a ser cortado era preso
por um torniquete. Com um único
golpe, o cirurgião cortava a carne
até a altura do osso. Fazia, então,
duas marcas nas partes superior e
inferior do osso para apoiar a serra,
e enquanto o assistente mantinha
o torniquete apertado e puxava a
carne, para haver uma “sobra” de
músculo e pele, o médico serrava
o osso. Tudo isso em cerca de 30
segundos! Para evitar hemorragias
fatais, a coagulação do sangue era
acelerada com uma cauterização:
uma chapa fervendo colocada ra-
pidamente sobre o ferimento. A
rebarba de carne era ajustada so-
bre a área cortada e costurada com
uma sutura. De cada seis pacien-
tes, apenas ummorria!
Evitando a concepção
Muitos artifícios foramusados pa-
ra evitar a gravidez. Em200 a.C., as
mulheres usavamum instrumento
de bronze chamado pessário para
bloquear o colodoútero. Apesar de
se manter preso no lugar, o objeto
provavelmente machucava muito
a mulher durante a relação sexual.
Em 1880, um dispositivo intra-
cervical feito de ouro funcionava
depois da concepção, impedindo
que o embrião crescesse dentro do
útero da mulher. Esse mecanismo
foi substituído pelo dispositivo in-
trauterino (DIU), reduzindo o risco
de transferência de bactérias entre
o colo do útero e o útero. As mu-
lheres que usavam os dispositivos
intracervicais corriam o risco de
ter infecções ou ficarem estéreis. A
camisinha também é das antigas,
com relatos do século 18, mas feita
de membrana intestinal de algum
animal, como o cordeiro. A de lá-
tex foi criada apenas em 1912.