Previous Page  28 / 68 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 28 / 68 Next Page
Page Background

28

REVISTA UNIMED BR • N

o

19 • Ano 5 • Out/Nov | 2015

Atitude

hoje para tratar da catarata. Em ca-

sos extremos, o cirurgião utilizava

uma agulha sem ponta para pene-

trar o globo ocular e raspar o cris-

talino – a “lente” que regula o foco

– enquanto três assistentes segura-

vam o paciente. Depois, ele retira-

va a agulha e o paciente avaliava se

a visão estava mais nítida. O pro-

cesso era repetido três ou quatro

vezes. A região, então, era lavada

com água salgada e o operado re-

pousava por até uma semana.

Cirurgia plástica é coisa do

passado

Na Itália do século 16, a técnica

atingiu uma sofisticação inédita.

O médico começava “refazendo”

o nariz antigo – ou o que havia

sobrado dele – com um bistu-

ri rudimentar. Obviamente, sem

anestesia. Com o novo órgão es-

culpido em carne viva, o cirurgião

desenhava um prisma na parte

interna do braço do paciente. Com

uma faca afiada, ele cortava a fi-

gura, exceto em uma das pontas.

Como era preciso levar junto com

esse enxerto os vasos sanguíneos,

restava um buraco profundo no

braço do paciente, que era preen-

chido com ataduras. Esse pedaço

de pele cortada era usado para

cobrir o nariz, devidamente afi-

xado com suturas nas laterais. Por

ainda estar ligado ao organismo

– na extremidade não cortada no

braço –, ele recebia circulação de

sangue normalmente e, assim, po-

dia cicatrizar lentamente sobre o

rosto, sem necrosar. Só tinha um

probleminha: durante a regenera-

ção, o paciente ficava com o braço

“colado” à face, sem movê-lo. Para

isso, ele recebia um corselete de

couro, com tiras desenhadas sob

medida. Após duas semanas, o ci-

rurgião fazia retoques coma faca e

só três meses depois permitia que

o paciente se olhasse no espelho.

Sangue do seu sangue

Até que chegássemos aos pro-

cedimentos efetuados hoje para

uma transfusão de sangue, a pri-

meira delas considerada bem-su-

cedida aconteceu na Inglaterra, no

século 17, envolvendo um jovem

de 15 anos com anemia e (pasme!)

uma ovelha. O garoto só sobrevi-

veu à rejeição ao sangue do bicho

porque recebeu uma baixa quan-

tidade, já que os tubos e as agulhas

usados provocaram muita perda

do líquido durante o processo. O

médico responsável, Richard Lo-

wer, fez várias outras tentativas,

mas a maioria dos pacientes mor-

reu. Em 1670, a técnica foi proibi-

da pelo governo britânico e, de-

pois, banida pela igreja. Só voltaria

a ser realizada 150 anos depois,

com os pacientes humanos lado a

lado sobre duas macas.

Respeitável público

Em meio a tantas guerras, as am-

putações eram procedimentos co-

muns. No século 19, o médico es-

cocês Robert Liston desenvolveu

importantes técnicas nessa área, e

suas cirurgias eram realizadas em

um anfiteatro de uma universida-

de de Londres, onde a intervenção

podia ser assistida pelo público. O

paciente tinhaosbraçoseaspernas

presos por correias de couro e qua-

tro pessoas ficavam à disposição

para segurá-lo, caso se debates-

se de dor. Uma placa de madeira

era colocada entre seus dentes, e

o membro a ser cortado era preso

por um torniquete. Com um único

golpe, o cirurgião cortava a carne

até a altura do osso. Fazia, então,

duas marcas nas partes superior e

inferior do osso para apoiar a serra,

e enquanto o assistente mantinha

o torniquete apertado e puxava a

carne, para haver uma “sobra” de

músculo e pele, o médico serrava

o osso. Tudo isso em cerca de 30

segundos! Para evitar hemorragias

fatais, a coagulação do sangue era

acelerada com uma cauterização:

uma chapa fervendo colocada ra-

pidamente sobre o ferimento. A

rebarba de carne era ajustada so-

bre a área cortada e costurada com

uma sutura. De cada seis pacien-

tes, apenas ummorria!

Evitando a concepção

Muitos artifícios foramusados pa-

ra evitar a gravidez. Em200 a.C., as

mulheres usavamum instrumento

de bronze chamado pessário para

bloquear o colodoútero. Apesar de

se manter preso no lugar, o objeto

provavelmente machucava muito

a mulher durante a relação sexual.

Em 1880, um dispositivo intra-

cervical feito de ouro funcionava

depois da concepção, impedindo

que o embrião crescesse dentro do

útero da mulher. Esse mecanismo

foi substituído pelo dispositivo in-

trauterino (DIU), reduzindo o risco

de transferência de bactérias entre

o colo do útero e o útero. As mu-

lheres que usavam os dispositivos

intracervicais corriam o risco de

ter infecções ou ficarem estéreis. A

camisinha também é das antigas,

com relatos do século 18, mas feita

de membrana intestinal de algum

animal, como o cordeiro. A de lá-

tex foi criada apenas em 1912.