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Ago/Set | 2016 • N

o

24 • Ano 6 • REVISTA UNIMED BR

confortável. Eu diria que sou

muito melhor do que eu jamais

imaginei, mas muito pior do que

quero ser num futuro próximo.

Ainda sou duro demais com as

meninas, ainda me pego no celu-

lar enquanto estou com elas, ain-

da não consigo dividir direito as

necessidades da mais nova com

a atenção para a mais velha. A

gente aprende sendo pai. 

Você cresceu sem a figura

paterna ao seu lado. Como

você avalia a importância

do pai no convívio, no

crescimento e na educação

dos filhos?

Um pai presente implanta no

imaginário infantil um porto se-

guro, um herói, um exemplo. A

criança se sente mais segura, tem

uma referência. Minhas filhas

me amam tanto que quase não

veem minhas falhas. Elas apren-

dem comigo sobre matemática,

os astros e como fritar um ovo.

Sempre senti falta de umpai para

me ensinar a andar de bicicleta.

Dormir em cima de uma barriga

gigante deve ser uma sensação

fantástica. Toda criança deveria

ter esse direito. 

Hoje podemos perceber

que o pai tem cumprido a

tarefa em tempo integral,

enquanto a mãe assume

outros compromissos na

vida profissional e pessoal.

Você comenta sobre sua

experiência de ser pai

em tempo integral no

seu livro? Como é assumir

esse papel?

A mulher entrou no mercado

de trabalho e nada mais justo

do que o homem entrar na vi-

da familiar. Sou pai em tempo

integral, porque nunca deixo de

ser pai: se precisar faltar do tra-

balho, transferir uma reunião,

cancelar um evento para aten-

der a uma demanda familiar,

devo fazê-lo. Esses dias, a Globo

me ligou pra fazer uma matéria

para o programa da Fátima Ber-

nardes, mas era no dia do show

da Clarice Falcão. Minha filha

estava esperando para irmos

juntos a esse show há meses.

Então, lá estava eu, com a Anita

nos ombros, rodeado por ado-

lescentes. E tentarei recuperar

o tempo do trabalho em algum

outro momento. As pessoas

se arrependem de ter passado

pouco tempo com as pessoas

que mais amam. 

O que você pensa sobre

o “apaideiramento” que

percebemos hoje na

sociedade?

Acho que é apenas uma im-

pressão, já que é uma novidade

no comportamento masculino.

A maioria dos pais ainda é au-

sente ou distante. No Brasil, 5

milhões de crianças não têm o

nome do pai na certidão de nas-

cimento. Acho que temos um

longo caminho pela frente.

E que dica daria

para os pais?

Estejam presentes. As crianças

não se importam com uma ca-

sa grande, porque elas gostam

mesmo é de dormir na sua cama.

As crianças não se importam

com a melhor escola, se você é o

último a pegá-las lá. As crianças

não se importam com brinque-

dos caros. Elas só querem ter vo-

cê por perto, prestando atenção,

conversando, ensinando e, prin-

cipalmente, aprendendo.

Foto: Gisa Sauer