Revista Unimed - Ed 21 - page 48

48
REVISTAUNIMEDBR . N
o
21 . Ano6 . Fev/Mar | 2016
Para alcançar esse complexo objetivo, talvez
fosse necessária uma nova forma de pensar e
oferecersaúde- temacomoqualMcDonough
tembastanteafinidade. Entre2008e2010, foi
conselheiro sênior da Reforma Nacional de
SaúdedosEstadosUnidos, trabalhandonode-
senvolvimento e na aprovação do Affordable
Care Act, a Lei de Cuidado Acessível, conhe-
cido comoo famoso "Obamacare", que obriga
todos os norte-americanos a terem um plano
de saúde com requisitos mínimos, mediante
pagamento de multa. A intenção é estender
pormeiode incentivosoacessoàsaúdeàque-
les que, até então, não podiam contratar um
convênio, umavezqueosEstadosUnidosnão
contamcomumatendimentouniversal como
o SUS, noBrasil. Desde que a lei foi aprovada,
em2010, háapoiadoresedetratoresàmedida.
Éaí que seevidencia, segundoMcDonough, a
maior diferença de valores entre brasileiros e
norte-americanos. "Para quem apoia o Affor-
dable Care Act, é o princípio de que serviços
médicos são para todos. Já uma parte signifi-
cativadapopulaçãoamericananãoaceita isso.
E, se tiver que aceitar, o faz só com relação a
quem trabalha, pensando 'senão trabalha, va-
mos tirar a cobertura deles'. O irônico é que é
nessemomentoqueessaspessoasmaispreci-
sam", afirma.
O especialista conversou com a
RevistaUni-
med BR
para compartilhar suas impressões
sobre a saúde no Brasil e como ela se asse-
melhae sedistanciadoqueévistonosEsta-
dosUnidos.
Quais sãoasprincipais característicasdos
setorespúblicoeprivadode saúdenoBrasil?
O setor público temde lidar comasnecessida-
desdeumapopulaçãomaior ecommuitome-
nosrecursosdoqueoprivado. Jáosetorprivado
temmais flexibilidade e, aparentemente, gera
maissatisfaçãoentreosclientes.Aspessoases-
tãomais felizesecompreendemmais.
Havia a ideiadeque, quandooSUS foi criado,
o setorprivadodesapareceria. Issoclaramente
não aconteceu e está indo na direção oposta,
pois temmais recursos disponíveis para ga-
rantir que seus sistemas funcionemmelhor.
Não há nenhummistério, é um padrãomuito
comum no mundo e que lembra emmuitas
maneiras os Estados Unidos. Existe também
uma vantagem estrutural em impostos que
cria um incentivo real muito similar ao que
vemospor lá.
O desafio para o Brasil é manter as vanta-
gens do setor privado e estendê-las à popu-
laçãoqueestámuitomenos satisfeita como
que tem.
Comoos setorespoderiam trabalhar juntos,
levandoemconsideraçãoumapopulação tão
variadaenumerosacomoabrasileira?
A interação e a colaboração poderiam ser
melhores. Se os benefícios em impostos
sumissem, não veríamos o desaparecimen-
to do setor privado, mas sim uma consi-
derável diminuição dele porque os custos
aumentariam.
Temos de lidar com a população de um jeito
que geremaiores níveis de satisfação e auxi-
liar ogovernoa fazerum trabalhomelhor, au-
mentandoapercepçãodaspessoasdequees-
tão conseguindo o que precisam emerecem.
O setor privado tem capacidade e habilidade
quepoderãoserúteisaogoverno, possui infor-
maçõesparaentenderosproblemasdapopula-
çãocobertaepode traduzir issoparaogoverno.
Ajudariaacuidar da saúdecom focoempopu-
laçõesespecíficasemediriao impactodevárias
intervenções.
Háalgumadiferençaprincipal entreo setor
de saúdenoBrasil enosEstadosUnidos?
Odireito constitucional à saúde, semdúvidas!
Mesmoque às vezes seja fraco enão atinja as
expectativasdaspessoas.Adiferençaé funda-
mental desdeo início.
O "Obamacare" não é um direito constitucional
à saúde, aos serviços de saúde ou à cobertura de
1...,38,39,40,41,42,43,44,45,46,47 49,50,51,52,53,54,55,56,57,58,...68
Powered by FlippingBook