Revista Unimed edição nº 4 - Unimed Videira - page 6

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Revista Unimed
Em minha vivência de mais
de 25 anos como médico pedia-
tra, tive o privilégio de adentrar
na intimidade de milhares de fa-
mílias. Penso que minha profissão
representa um dos últimos elos
afetivos que teima em resistir ao
stress e brutalidade do cotidia-
no, permitindo uma proximidade
agradável e necessária à relação
médico-paciente. Impossível não
lembrar neste momento de pro-
fissionais exemplares como Dr.
Mozza, Dr. Karam e tantos outros
que fizeram da cumplicidade afe-
tiva e do comprometimento com
o bem-estar do seu semelhante
uma meta de vida, comportando-
-se não somente como médicos,
mas amigos, as vezes consultores,
responsáveis por amenizar não
somente a dor do corpo, mas tam-
bém a dor da alma.
Na qualidade de pediatra, me
atrevo a dissertar sobre uma das
instituições que mais sofreram
modificações com o decorrer dos
anos . Refiro-me à família.
Sem querer incorrer em sau-
dosismos melancólicos, convivi
em minha infância, e mesmo em
minha profissão, com o modelo
tradicional de família, composto
por pai, mãe e filhos. Ao pai cabia
prover as necessidades materiais
da casa. À mãe, os cuidados com o
lar e com a educação dos filhos. A
estes, bem, estudavam, obedeciam
e respeitavam os mais velhos.
Com o passar do tempo a si-
tuação se modificou. A mãe, por
necessidade econômica e de reali-
zação pessoal, conquistou seu lu-
gar no mercado de trabalho, con-
Reflexão
sobre família
"Não existe uma fórmula mágica para ser
um bom pai, boa mãe ou bom filho"
tribuindo de modo decisivo com
as finanças do lar. A partir deste
momento começa o processo de
terceirização dos cuidados e da
educação dos filhos, delegando a
outros uma função até então exe-
cutada dentro de casa. Óbvio que
esta transformação aconteceu de
modo gradativo e foi fruto de mo-
dificações ocorridas em todos os
segmentos da sociedade.
Qual foi o reflexo imediato
mais sentido? Claro, a redução do
tempo de convivência familiar.
Quem pode se dar a este luxo nos
dias de hoje? Este fato agrediu o
processo de formação e consoli-
dação da personalidade, e muitas
vezes, do caráter de nossos filhos.
Observei que o motivo primordial
que desencadeou este afastamen-
to foi, na maioria das vezes, a ne-
cessidade financeira. Quase nunca
faltou amor. Mas, a relação sofreu.
Embruteceram-se os sentimentos.
Conheço muitos pais que dariam
a vida por seus filhos, mas sentem
uma dificuldade extrema em di-
zer "filho, eu te amo".
A família mudou. Muitas mães
são hoje chefes de família. Do mo-
delo tradicional de pai, mãe e filhos,
hoje vemos mãe e filhos, pais e fi-
lhos, famílias "mosaico" compostas
de filhos do primeiro, do segundo
e as vezes do terceiro casamento.
Famílias compostas de dois pais e
filhos, duas mães e filhos, entre ou-
tros. Situações assim demandam
um esforço sobre-humano para se
manter a harmonia no lar.
Estas modificações forammui-
to intensas e ocorreram num es-
paço de tempo muito curto. Quem
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