Revista Unimed
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tem acima de 40 anos tem mais
condições de observar estas mo-
dificações. A visão da sexualidade,
dos modos de relacionamento, do
culto ao prazer e à individualidade
são exemplos muito claros de si-
tuações que se modificaram à me-
dida que cada nova verdade nos
era apresentada.
Falar sobre família e não cair
em velhos clichês, repetindo o
que muita gente já falou, é difícil.
É dentro do processo de convi-
vência que se forma uma identi-
dade, moldada principalmente no
exemplo. Filhos não seguem con-
selhos, filhos seguem exemplos.
Experimente, entre uma tragada
e outra de cigarro, tentar conven-
cer seus filhos dos malefícios do
fumo. Fica difícil, né?
Qualquer desajuste neste pro-
cesso inexoravelmente leva a um
desastre social, causando um dese-
quilíbrio nestemeio, abrindo as por-
tas para o alcoolismo, para as drogas
e para a delinquência. Uma casa
tanto pode ser um mero local para
se dormir e se alimentar como uma
referência de segurança, de apoio e,
principalmente, de amor. Depende
como você, pai ou filho, interagem
com esta instituição.
Não acredito em famílias que,
vez por outra, não entre em crises.
Aliás, não acredito em nenhum
tipo de relacionamento que oca-
sionalmente não sofra turbulên-
cias. Qualquer convívio que exija
amor, dedicação e zelo interage de
modo muito próximo com frus-
trações, desavenças e conflitos.
Isto é absolutamente normal e o
modo que equacionamos estas si-
tuações fortalecem ou abalam os
alicerces da estrutura familiar.
Não existe uma fórmula mági-
ca para ser um bom pai, boa mãe
ou bom filho. Ainda bem que não
existe. Cada família é única e, cla-
ro, diferente uma das outras. O que
é bom para minha família pode
não ser para a sua.
A paternidade e, claro, a mater-
nidade, é uma função extrema-
mente insalubre, mal remunerada,
sem direito a férias, décimo terceiro
ou aposentadoria. Trabalha nos lo-
cais e nos horários mais inóspitos.
Não é, seguramente, uma atividade
para qualquer um. Quantas e quan-
tas vezes nós, pais, não somos asso-
lados por dúvidas, um sentimento
angustiante de insegurança por não
termos a certeza de estarmos fa-
zendo a coisa certa. Que tormento o
sentimento ambíguo de amor e dú-
vida. Que linha tênue faz a divisória
entre o controle tantas vezes doen-
tio, agressivo e autoritário da omis-
são que deixa tantos jovens órfãos,
muito antes de seus pais morrerem.
Que tentação deixar de ser pai e ser
apenas amigo, grande erro que as-
sola e destrói tantas famílias.
Um exemplo bonito e puro
vem da natureza. A mãe águia
constrói seus ninhos nas partes
mais altas e íngremes dos despe-
nhadeiros, com o intuito claro de
proteger sua prole dos predadores.
Chega um determinado momento,
e somente ela sabe quando chega
este momento, que a mãe águia
chacoalha os seus ninhos, obri-
gando seus filhotes a alçarem voo
próprio, buscando o seu lugar no
mundo. E assim eles o fazem.
Mando um abraço afetuoso a
todos os pais e mães que, como eu,
têm uma enormidade de dúvidas,
mas convivem com o sentimento
de que demos o melhor de nós,
que sempre nos esforçamos para
ter feito do caráter a "asa" forte que
lhes permite voarem por sí pró-
prios. Um abraço especialmente
apertado a todos que dividem,
como eu, sentimentos de ansieda-
de e apreensão, aguardando que a
vida nos mostre se estávamos cer-
tos ou errados. Compartilho com
vocês este sentimento que trago
no peito e espalho por onde pas-
so, de que família dá trabalho mas,
sem dúvida nenhuma,....
"VALE A PENA"
Dr. Amarildo Moro Ribas
Médico Pediatra
CRM 5427 - RQE 4290