43
Jun/Jul | 2015 • N
o
17 • Ano 5 • REVISTA UNIMED BR
D
izem alguns que a his-
tória se repete. Claro
que de forma evoluída e
atualizada à época desses ressur-
gimentos episódicos. Nada mais
verdadeiro! Peter Drucker discorre
com maestria sobre o assunto.
As grandes transformações na His-
tória Ocidental ocorreram a inter-
valos de dois a três séculos. Após
acontecerem, seguem-se como
necessários períodos de quatro
a seis décadas até a completa
adaptação e incorporação do
“novo”, que é progressiva e variá-
vel em cada país, à mercê de sua
própria visão de mundo, estrutura
político-social, patamar cultural,
valores sociais básicos e capacida-
de absortiva de suas instituições
mais importantes.
Após esse tempo médio, tudo está
tão mudado, tão diferente, que se
torna muito difícil explicar e imagi-
nar o mundo dos nossos antepas-
sados próximos e recentes na ótica
atual. Geralmente, resumimos com
palavras gastas, como progresso
e/ou mudança, de forma simplista
e inadequada, sem valorar e inter-
pretar o conjunto de variações e o
seu entrelaçamento, que em alguns
momentos é previsível.
Não é o que acontece agora, quan-
do estamos vivendo e presencian-
do mais um desses ciclos, na assim
chamada sociedade pós-capitalis-
ta, cujos avanços (o tempo de hoje
é a metade da duração dessa tran-
sição, que deverá se concluir entre
2020 e 2025) já nos permitem ana-
lisar aspectos socioeconômicos e
políticos da Idade do Capitalismo
e do Estado-Nação, dos quais nos
distanciamos com grande rapidez
e desde pouco tempo atrás.
Algumas das clássicas doutrinas
que nortearam e regularam as
relações entre os povos, espe-
cialmente aquelas difundidas nos
primórdios do século XVIII até re-
centemente, como o capitalismo,
o comunismo, o marxismo, o leni-
nismo, o maoísmo, o liberalismo, o
trabalhismo, dentre tantas, paula-
tinamente perderam suas funções
de realidades políticas e filosófi-
cas dominantes, para dar lugar à
sociedade pós-capitalista, globa-
lista e, por isso, universalizante.
Hoje, temos História e civilização
ocidentais mundializadas conver-
gindo para consolidar de forma ir-
reversível um neofenômeno social,
calcado na informação e no conhe-
cimento, que determinará o rela-
cionamento futuro entre todos.
Atualmente, os tempos de implan-
tação e consolidação são menores,
o que não acontecia no passado.
Na visão de Peter Drucker, nada
que é pós é permanente ou tem
vida longa. Portanto esse é só um
período de transição. Mas volte-
mos no tempo. É educativo.
A partir de 1450, Idade Média e
Renascimento entraram em in-
volução para dar lugar ao mundo
moderno, e alguns eventos e pes-
soas foram emblemáticos no pai-
nel de análise histórica: Copérnico
e suas teorias (1510), Maquiavel e
suas teses (1513), Michelangelo
e sua arte (1508) e o Concílio de
Trento (1540), que restabeleceu e
resgatou a representatividade da
Igreja Católica. Esses episódios e
realidades, entre tantos outros,
marcaram as transformações e as
adaptações que se seguiram.
No século XVIII, a Revolução Ame-
ricana se impôs como marco de
uma época de mudanças e, como
determina o figurino da História,
somente foi entendida e incorpora-
da entre 50 e 60 anos depois, com
a agregação de inúmeros avanços
técnicos. Decorreu daí que o signi-
ficado de novos conhecimentos foi
sendo elucidado e utilizado para
um caminhar progressista do que
se chamou tecnologia, desaguan-
do na chamada civilização mun-
dial de hoje, onde esses e outros
novos conhecimentos, antes pri-
vados, se tornaram públicos, inci-
tando maior poder competitivo e
político àqueles que os detêm em
maior número e condições reais
de aplicabilidades. Nessa área do
saber, tudo foi transposto em es-
cala contínua e renovada, rápida e
muito divulgada, notadamente nos
últimos 25 anos.
A destruição do marxismo como
ideologia e a do comunismo como
sistema social, após 250 anos de
vigência, paradoxalmente causou a
derrocada do capitalismo, tornando
-o obsoleto, principalmente pela sua
incapacidade crônica de resgatar a
enorme dívida social gerada ao lon-
go do mesmo número de anos em
que se postou como alternativa de
prática social e ideológica. Soma-se
a isso o seu enorme potencial para
produzir conflitos de classes sociais,
ocasionando o plural bipolar dos
“muitos ricos e dos muitos pobres”.
O que esperamos desse eferves-
cente caldeirão de mudanças? Im-
possível tudo prever! Mas algumas
tendências são claras.
A sociedade que se moldará ao final
do processo será, seguramente, não
socialista e pós-capitalista. Seu re-
curso básico será o conhecimento,
o que implicará maior organização
e estratificação. O Estado-Nação,
com reinado superior aos 400 anos,
será um simples integrante dessa
massa de remodelação mundial.
Teremos um pluralismo de postu-
ras, no qual coexistirão como des-
taques, necessários à integração
política e econômica, o regionalis-
mo ao lado de estruturas gigantes-
cas, frutos de fusões e incorpora-
ções transnacionais. As fronteiras,
tão somente, serão linhas de ve-
lhos mapas e cartas náuticas (e aqui
me lembrei do seu Nico...).
A linguagem tenderá a se unificar,
ao menos nas relações comerciais.
O mercado permanecerá como in-
tegrador efetivo e onipresente nas
relações econômicas, e teremos,
ao menos, duas novas classes so-
ciais, hoje já formadas e em franca
expansão: trabalhadores do co-
nhecimento e trabalhadores em
serviços. Enorme será a diferença
na pirâmide social mundial entre
os detentores do capital intelec-
tual e aqueles desprovidos de tal