REVISTA VIVA
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A professora Gilda diz que os índios nativos não eram tão bonzinhos, mas lembra que
os livros didáticos ensinaram, por muitos anos, a história sob o ponto de vista de uma
fonte só: os vencedores e opressores.
A professora, em suas aulas, discute os avanços tecnoló-
gicos da época (aperfeiçoamento da náutica); os interesses
extrativistas de Portugal; e o genocídio indígena, que se deu
mais pelo espalhar de doenças do que pelo trabalho escravo.
"É importante ver, na medida do possível, os dois lados da
PIONEIRISMO X FUGA
Como podemos ver, a descoberta oficial do Brasil foi resultado
de uma pioneira e eficiente política de expansão marítima da
monarquia portuguesa. Grandes embarcações e expedições
exploraram os oceanos nos séculos XIV e XV graças ao
progresso da náutica ao desenvolvimento de instrumentos e
técnicas de navegação.
Contrastando com a imponência dessa época, registra-se, quase
300 anos depois, a fuga da Família Real Portuguesa ocorrida
exatamente na manhã de 29 de novembro de 1807. Todos -
rainha, príncipe regente e corte - que governavam Portugal,
vieram embora para o Brasil (que ainda era colônia portuguesa),
sob a proteção da marinha da Inglaterra. "Nunca algo
semelhante tinha acontecido na história de qualquer outro país
europeu", comenta Laurentino Gomes, em seu livro 1808. Nessa
época, Portugal era um dos países mais atrasados da Europa, no
que diz respeito às ideias e à reforma política.
O motivo da fuga foi a ameaça, depois confirmada, da invasão
da França a Portugal. "A fuga foi o resultado da pressão do
maior gênio militar que o mundo havia conhecido desde o
tempo dos césares do Império Romano: Napoleão Bonaparte",
conta Laurentino Gomes.
1501
1530
1535
1808
1549
1763
A frota
portuguesa
com Américo
Vespúcio é
enviada para
explorar a nova
terra.
Tem início a
colonização efetiva,
com a expedição de
Martim Afonso de
Sousa, a fim de fazer
o reconhecimento
da terra, a introdução
do cultivo da cana-de-
açúcar e a criação dos
primeiros engenhos.
Vasco Fernandes
Coutinho aporta
na capitania do
Espírito Santo para
colonizar o local.
A Corte Portuguesa
muda-se para o
Brasil e o Rio de
Janeiro torna-se sede
do império.
Salvador torna-se a
primeira capital do país.
O Rio de Janeiro
torna-se capital da
colônia portuguesa.
história. Os livros didáticos a contamsob a perspectiva branca.
Muito dessa história veio de uma só fonte, um só lado (o dos
vencedores e opressores)", opina.
Oprofessor José Renato lembra ainda que há umdocumen-
to, datado de 1506, denominado Esmeraldo de Situ Orbis, que
atribui ao navegador Duarte Pacheco Pereira a primeira visita
de portugueses ao Brasil, em 1498. "Apesar desse manuscrito
já ter sido impresso há mais de 100 anos, até hoje não houve
nenhuma movimentação significativa, no meio acadêmico,
no sentido de legitimar esse 'novo descobrimento'", informa.
Outro argumento para a hipótese da intencionalidade foi
o de que Portugal buscou garantir logo a posse de parte que
lhe cabia conforme o Tratado de Tordesilhas, assinado em
1494, que dividia entre os dois países as terras descobertas,
evitando o atrito entre eles.
Dessa forma, épossível, emesmoprovável, quePedroÁlvares
Cabral não tenha sido o primeiro europeu a desembarcar no